sexta-feira, novembro 17, 2006

Marés Vermelhas

O mar e suas águas já estavam acordados quando surgiu o rapaz através da areia. Caminhava, solto, vivo, como se estivesse acordado há horas. A realidade é que havia se levantado há poucos instantes, apenas para chegar ao mar ainda vazio. Apaixonado pelo mar, pelas ondas, queria tudo apenas para si, queria morar ali, mas tinha outras ocupações, trabalho, responsabilidades em geral. Correu em direção à água, pisando na areia fofa: Como adora essa areia de madrugada! Areia que sempre acompanhava o nascer do sol e ainda estava fresca como a brisa que parecia vir de todas as direções.

Salta! Ah, a melhor sensação do dia, ele já sabia, mesmo o dia tendo acabado de começar. Remou para pegar sua primeira onda, aprofundando-se no mar, mas em sua terceira braçada viu cruzar por sob a água o corpo do tubarão. Sentou-se, assustado, em sua prancha, e não pegou aquela onda. Olhou para trás, pensando em voltar, e viu que estava mais longe da praia do que imaginava. Procurou o tubarão, novamente, mas não o viu ao redor. Olhava, preocupado, para todos os lados, e ainda assim não o enxergava.

O sentiu, porém. Em uma puxada forte a sua perna direita, ele virou, sem conseguir resistir em direção à água. Retornou a superfície, com alguma dificuldade, como a que nunca tinha para nadar. Procurava sua prancha, sendo atingido por pequenas ondas em formação, e a viu já distante. Sentiu a água esquentar, e a enxergou vermelha. Então, veio a dor, de sua perna direita, que buscou com as mãos, sem a encontrar.

Desesperado, olhou em direção à praia, mas não enxergou ninguém que o ajudasse. Havia acabado de desaprender a nadar: mexia seus braços freneticamente, assim como girava sua cabeça em busca de alguém, mas mal conseguia manter seu queixo seco. Engolia água salgada, morna de seu sangue, aos goles. Tossia, quase se afogando lentamente, e chorava. O mar usava seu vai e vem para afastá-lo mais e mais da areia, trazendo-o para águas mais profundas.

Sentiu um forte esbarrão em sua perna ainda intacta, e outro em seu tronco. O sol teimava em raiar por detrás daquelas nuvens, ainda cinzas, e ele não o veria novamente. Não sentiria mais aquele calor agradável. Sentiu, porém, dentes afiados, muitos deles, cada um abrindo sua carne, em um movimento rápido, que o puxou para o fundo.

Acordou!

Puxou seu fôlego, e olhou, ainda agitado, ao redor. Apenas seu quarto: escuro, mas seco e vazio. Suas pernas e braços estavam intactos, embora parecessem cansados do esforço do pesadelo. Secou o suor, e disse, apenas para si mesmo:

- Cara, que piração...

Olhou pela janela, e viu uma breve luz vermelha anunciando a aproximação do sol. Olhou, então, para sua prancha. Em seguida, pegou a bicicleta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ai credo, que afliçao esse texto...rs