quarta-feira, novembro 08, 2006

Agonia

Sozinho. Apenas casas vazias ao seu redor (o mundo simplesmente estava assim quando ele acordou). Uma sensação de culpa o percorre: queria tomar de volta as palavras que proferiu a muitas pessoas que, imaginava, nunca mais veria. Caminha, pela madrugada, na cidade morta. Nenhum ruído senão o de seus passos. O silêncio o assusta, mas ele prefere não pensar a respeito.

Um frio na espinha o acompanha, e ele constantemente observa o caminho que deixa para trás. Há sempre a sensação de que algo está à espreita, o observando. Tantas janelas vazias, escuras, por detrás de onde tantas coisas podem estar o acompanhando. Famintas, talvez. Horrores. Ele está com medo, e anda apressadamente, embora não perceba. Prefere não pensar a respeito.

Pode apenas pensar a respeito. Respira aceleradamente, anda aceleradamente, procura alguma rua conhecida, mas, mais do que isso, procura algum rosto conhecido. Procura qualquer pessoa. Procura alguma saída daquele sonho (tinha medo de usar a palavra pesadelo: é tudo tão real, tão real demais...). Tinha medo de não ter para onde acordar, e de aquele ser o último mundo que conheceria.

Pára em frente a uma loja, cujas luzes estão apagadas, como a maioria das demais pela cidade. Apenas a luz dos televisores, que parece tão sinistra agora, ilumina uma pequena parte do cenário. O restante do vazio escuro o aterroriza, e ele teme se aproximar da vitrine. Ainda, pode ver com clareza as imagens em movimento: pessoas, e elas conversam, ele percebe, embora o som das televisões não passe pela vidraça. Conversam sobre ele? Conspiram!

“Meu Deus, estou ficando louco...”. Sentia que aquele não era a primeira noite que passava ali e que sua memória o enganava. Sentia que estava perdido naquele lugar já há muito tempo. Algum lugar afastado, de onde ninguém poderia o salvar. Um lugar onde ninguém o ajudaria. Enjoou-se, e vomitou na sarjeta.

Subitamente, uma batida na vitrine da loja, vinda do lado de dentro. Seu sangue gelou, imediatamente, e ele se moveu muito muito lentamente, trêmulo, para ficar ereto. O barulho veio do lado de dentro da loja. Ele voltou seu rosto para a vitrine, mas viu apenas, imersos na sinistra escuridão daquele interior, os televisores, dos quais agora as pessoas o observavam, fixamente. Apavorado, ele não consegue se mover sob aqueles olhares ruins.

Suas pernas fraquejaram e caiu para trás. Mas, manteve seu olhar na vitrine, na qual via apenas os televisores, e as pessoas que o observavam, com olhos arregalados. Tremia, sozinho naquele lugar escuro. Começou a chorar, homem crescido. Lembrou do porquê estava ali...

Um comentário:

Anônimo disse...

Será que eu como uma leitora de Fábio Felix, vou ter ainda a oportunidade de um dia ler um livro de textos assim??
Responda, rs.