O céu daquela noite ruge e brilha, em raios e trovões, anunciando a aproximação da tempestade.
O homem corre por seu laboratório, de lado a outro, apressado, agitado. Ele sua, não por estar em movimento, mas pelo nervosismo que o toma: a incerteza, as dúvidas... “Não! Obstáculos frente a um progresso inevitável! Minhas dúvidas são traiçoeiras!”, ele pensa, tentando negar o que sente. Ele mente, mas apenas para si mesmo, e suas ações o acusam de tudo.
Ele pára frente a seu espelho, ofegante, observando a si mesmo com algum senso crítico, com reprovação, vergonha. Estático, ele toma seu fôlego, para então arrancar aquele espelho da parede onde estava pendurado: precisará dele para sua experiência. Então, subitamente, de um canto escuro, pode ouvir uma voz lhe falar:
- Com algumas coisas não devemos fazer experimentos. Existem resultados que não queremos obter, ou conhecer.
Seu pai o observava dali. Apavorado, recuou, trêmulo, quase derrubando seu espelho, mas o abraçando com força. Gritou, em uma voz que lhe falhava:
- Fantasma, deixe-me! Eu sou um homem da ciência!
A luz de um relâmpago voou pela janela adentro, para iluminar todos os espaços obscuros daquela sala: viu apenas um canto vazio. Alucinava?
Retomou sua coragem, embora não totalmente, e se apressou à conclusão de seus preparativos.
Naquela noite faria vida da morte, como imaginou, mas com repercussões inesperadas, de uma tragédia quase poética.