sexta-feira, maio 02, 2008

Uma questão matemática


Se a relação entre as intervenções externas e intervenções internas é capaz de redefinir cada pequena variável de forma quase aleatória, neguemos a existência de constantes, e reconheçamos que todo o sistema é variável. É dessa forma que eu enxergo que tudo é formado entre possibilidades: de sucesso ou fracasso; de amor, amizade, indiferença ou ódio; possibilidades em todos os lances de um tabuleiro infinito.

Diria algumas coisas importantes neste nosso mundo de muitos fatores:



DA AMIZADE

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Apesar do que possa parecer, as pessoas não são equitativamente divididas em:

Bons amigos, amigos, conhecidos, desconhecidos, inimigos, arquiinimigos.

Os amigos representam muito menos do que 1/6 da população mundial. Na realidade, representam muito menos do que 1/6 do convívio de uma pessoa comum. Os bons amigos, então, existem em proporção ainda menor.



DO AMOR

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Estatisticamente, a chance de uma pessoa encontrar alguém bonito, interessante, inteligente, sexy e bem estruturado (emocional, familiar, e economicamente) é baixíssima. Mais baixa, ainda, é a possibilidade de relacionamento afetivo/amoroso. Claro, se imaginarmos, hipoteticamente, que:

As pessoas bonitas correspondem a 1/5 da população

As interessantes a 1/5

As inteligentes a 1/10

Sexys a outros 1/5

E as bem estruturadas a 1/25

Teríamos que a chance de uma pessoa ser muito bem formada entre todos estes atributos seria de: 1 em 31.250 (ou: 0,0032%)

Cabe, então, valorizar a sorte de encontrar uma pessoa especial, e fazer o necessário para a preservação de um namoro, ou casamento, pois os números pesam contra todos.



DOS ERROS E ACERTOS

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Equívocos são inevitáveis, sejam eles “temporariamente intencionais” ou apenas acidentais, eventualidades. E, tenha-se que eles serão numerosos, mesmo proporcionalmente ao tempo de vida na terra.

Imagine-se que um ser humano comum viverá durante 40 anos. Estes anos somam 14.600 dias. Imagine-se, então, que a pessoa viva 6.600 dias (220 meses) consecutivos de erros. Isso ainda permitirá que ela tenha para si outros 8.000 dias de oportunidades de acerto. Seria mais proveitoso para todos que esses acertos fossem grandes e bons. Dias de nenhum esforço, dias de nada, não serão contados nestes efeitos.



DA ESPERANÇA

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Qual é o preço da esperança? Isso também é apenas uma questão matemática.

Para mantermos a esperança, coloca-se na mesa de apostas: os sonhos, as energias, a fé, até mesmo a sanidade, em alguns casos. E, muitas vezes, a chance de sucesso é baixíssima.

Digamos que você tenha 15% de chance de conquistar um objetivo. Isso significaria que você tem 85% de chance de não-obter esse algo, ou de obter alguma outra coisa. Melhor ainda: se você não buscar qualquer evento específico, a sua chance de que qualquer coisa ocorra é de quase 100%! Jogando com as estatísticas, teríamos que é um melhor negócio não esperar nada, pois, no nada, nós encontraremos uma grande chance de sucesso.

Na prática, esta é a raiz do ceticismo de muitos, do cinismo, em relação ao mundo, esse trabalhar com a chance maior, mesmo sendo ela de derrota.

Melhor pergunta, porém, seria: qual é o preço de não ter esperança?

Quem espera, quem acredita, caminha sempre para frente, porque pretende chegar em algum lugar. Quem espera, quem acredita, age, porque reconhece a importância de cada pequena coisa. Tenha esperança de encontrar as coisas mais valiosas (bons amigos, bons amores, boas oportunidades), e, quando vierem, não simplesmente a perca, mas deixe que ela se transforme em esperança realizada, em promessa cumprida.

Não deixe essa esperança para trás, não se esqueça do que valia, do que foi apostado e realizado, porque é a possibilidade de perder essa espécie de sabedoria o que traz consigo os danos incalculáveis. Lembre-se disso.

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Nesta brevíssima valsa entre as letras e os números, encerro o Entrecéteras.


Fecho as minhas cortinas, neste teatro vazio, triste... Eu teria continuado o show simplesmente se aquela certa pessoa estivesse na platéia... Adeus...



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p.s. – Bem, na verdade, o encerramento não tem nada a ver com nenhuma pessoa específica. É só que eu queria encerrar o BLOG de uma forma dramática. =)


p.s.2 – Até a próxima. Não se preocupem, eu voltarei assim que as coisas se estabilizarem mais daqui. Precisarei de todo o tempo que tenho, agora. Mas, trarei coisas muito melhores, confiem.


p.s.3 – Já sei, Bruninha, não precisa nem falar...rs


p.s.4 – Aproveitem e visitem os BLOGs dos amigos, cada um com seu estilo muito próprio. Confiram nos links. (Com uma recomendação especial para Mari Sierra)


quinta-feira, maio 01, 2008

Partire

Não há nenhuma terra à vista, ainda não.


Eu, apesar da incerteza, vou escolher acreditar que eu rumo para os portos que vejo nos sonhos que tenho.


Continuarei navegando, mesmo imprevisto. Verei estes portos.


Calmaria – Parte 1/X

Pedro olhava a vitrine. Olhava as roupas dos manequins daquela loja fechada. Era noite, e não chovia. (Por que isso era relevante?)

O que eram as cicatrizes de suturas por todo seu corpo, braços, mesmo rosto? Não reconhecia seu reflexo, nem tinha certeza se seu nome era realmente Pedro. Esse era o nome que lia no macacão que usava.

Seu corpo todo doía, MUITO, por dentro e por fora.

Wooosshhh... Um súbito pé-de-vento lhe passou, deixando arrepios

A rua estava vazia, e seus postes luminosos alternavam entre os acesos e os apagados, que criavam zonas de total escuridão.

Sinistro.

Toc-Toc-Toc!, estourou um som bem onde estava, e seu coração disparou como mil rajadas

- Saia da minha vitrine! – gritou um homem do lado de dentro

- Desculpe. – disse, baixo, baixo demais para que o homem o ouvisse, e seguiu caminhando

Para onde ia? Não sabia. Apenas sabia da dor que corria por seu corpo, e que sentia ao menor tremor de cada de seus passos.

Ti – tu – titi – tu ... Ti – tu – titi – tu ... tocou um celular, de algum lugar próximo dele.

Olhou ao redor...

Ti – tu – titi – tu ... Ti – tu – titi – tu ...

O som vinha do bolso do macacão.

Olhou o nome na tela: Marcos. Não atendeu. Não sabia quem era, não saberia o que dizer. Rejeitou a chamada.

- Gostei do toque. – ouviu alguém dizer, em tom de brincadeira

Óu óu... veio o som do alarme de um carro sendo desligado, e o veículo sendo destrancado, e com aquele som: o brilho rápido dos faróis

O quê? Onde? Como?

Um homem surgiu da escuridão: Ele trajava um suéter azul claro, e uma calça social.

Um carro, aparentemente, já estava ali na rua, estacionado ao lado de onde estava.

- Perdido, amigo? – o homem perguntou, devido à expressão desnorteada de Pedro

- Não sei. Não me lembro. – respondeu

- Você está bem? – aproximou-se o homem – Escute, se você quiser, eu posso deixar você em um hospital.

- Eu acho que gostaria... – respondeu, já quase nauseado pelas dores

- Vamos, então. – disse o homem

TRIC! – abriu-se a porta

Entrou no carro.

TRÔC! – fechou-se a porta

Pedro, com um frio em sua barriga, apenas encostou sua cabeça na janela fechada do lado do passageiro, e ficou a observar a cidade deserta daquela noite.

De alguma forma, ele sabia que a calmaria não duraria.

(...)

Acelerado

Quanto maior a velocidade, maior a chance de perder o controle.


quarta-feira, abril 30, 2008

Chocolápis (Parte 4 de 4)

(Antes de prosseguir, leia a parte 1)

(E a parte 2)

Lia olhou para sua mão, a caixinha, os chocolápis... Jogou-os todos no chão, com medo de cada um deles. Um desespero que ela não imaginava ter quando aquele rapaz lhe entregou os chocolápis.

Restavam quatro deles, os quais ela olhava jogados ao chão, paralisada bem onde estava.

Ela havia consertado algo, algo que podia ser consertado. Havia tido a oportunidade de viver algo que lhe faltava. Ela havia apenas sofrido um evento novamente, descobrindo que não havia o que ser feito. Havia chocolates ao chão. Escolhas teriam que ser feitas. E: havia tanto o que mudar, ou reviver, ou...

Não podia escolher, simplesmente não podia! Não!

Os dias eram simples quando tinham que ser sofridos, quando o passado era inescapável, quando sua responsabilidade parecia menor. Agora, ela sabia que coisas poderiam ter sido feitas: SABIA. Era tudo culpa dela, tudo!

Não, o passado não devia ser mexido, era errado, não podia ser uma responsabilidade do presente: ele tinha que ser lembrado, ou esquecido, e apenas isso.

Lia se contraía no banco, retorcendo-se, como se torturada. Seu neto lhe dizia algo, o pequeno estava preocupado, mas ela não podia ouvi-lo. Podia ouvir apenas as falas de suas lembranças, os erros, choros, todos pareciam retornar agora, implorando para serem escolhidos.

Toda uma vida, e muitas decisões que mudaram tudo. Toda uma vida, e muitas decisões que mudaram tudo, momentos que mudaram tudo, e todos podiam ser mudados novamente, vividos novamente: qualquer um deles. Lia perdia o ar, e nem mesmo conseguia chorar mais.

Lia se atirou ao chão, para agarrar um dos chocolápis: o desembrulhou e devorou, apressada, como se a um antídoto para a mais crua toxina.

O feitiço... Como se ela sempre estivesse ali, bem onde estava:

Lá estava Lia, velha e sozinha, no ponto de ônibus. Seu coração palpitava. Havia congestionamento, e motoristas irritados olhavam para todos os lados, menos para ela: era uma pessoa esquecida, mais uma vez.

Preferia ser esquecida, preferia não se lembrar

Do passado, queria nada, e aceitaria nada, só que estivesse enterrado.


Desarme

Sempre existirá algo que nos divide. Sempre haverá um problema que apenas parece relevante.


Não podemos simplesmente optar pela paz?


Apenas nela existe um futuro que valha a pena.


terça-feira, abril 29, 2008

Chocolápis (Parte 3 de 4)

(Antes de prosseguir, leia a parte 1)

(E a parte 2)


Lia, quase que apressadamente, e como se não notasse a presença de seu neto, puxou outro chocolápis da caixinha que segurava, o desembrulhou e comeu de uma só vez.

Piscou, apenas, e quando abriu seus olhos estava no quarto de hospital, com seu marido internado. Ele estava bem, sorrindo, havia melhorado. A sua filha estava ali, ao seu lado. Lia se lembrava com muita tristeza de ter saído para tomar um café, e de ter voltado tarde demais, voltado para uma correria de médicos e enfermeiras. Sua filha, observando o estado catatônico da mãe a observar o pai internado lhe perguntou:

- Tudo bem, mãe? A senhora não vai tomar seu café?

- Não, não, tudo bem. – respondeu, assustada, quase engasgando o choro – Vou ficar aqui mais um pouco.

Trêmula, puxou uma cadeira, e sentou-se perto do marido.

- Tudo bem, Lia?

- Tudo, tudo... – mas, chorou, e perguntou a ele – Você está bem, não?

- Com você aqui, eu estou ótimo. – sorriu – Não se preocupe, logo menos estaremos em casa, de novo.

Mas, ela sabia que não era verdade. Apenas queria estar ali para vê-lo uma última vez. Deu em Otávio um último beijo, e ficou segurando sua mão, apertado, durante os minutos que se passaram. Chorou, como chorou na primeira vez, mas em antecedência.

O tempo no passado acabou escorreu lentamente por suas mãos, e acabou, e Lia foi trazida de volta ao hoje.

De volta ao ponto de ônibus, Lia continuava a chorar. Luquinhas, pequeno, começou também a chorar. Lia, afobada, comeu outro chocolate...

E, estava de volta a sua casa, assistindo a novela, quando tocou o telefone. Sua filha Carla, ainda pequena naquela época, atendeu ao telefone imediatamente, bem como Lia se lembrava:

- Alô! (...) Mãe, é a tia Elisa, ela quer falar com você.

Lia se lembrava de ter dito que estava ocupada: queria assistir a novela, e se cansava dos assuntos tristes e reclamações da amiga viúva. Correu até o telefone desta vez:

- Alô, Lisa, fale comigo.

- Eu só queria conversar um pouco... – disse a amiga, que aparentemente estava chorando

- Está tudo bem, vai ficar tudo bem. Quer vir aqui para conversar? – disse Lia, que engolia o choro, pois Carlinha brincava com as bonecas ao seu lado

- Não... – respondeu, gaguejando

- Eu vou até aí, então. – ela disse

- Não, acho que não temos tempo... – e a amiga perdeu as palavras ao choro

E, também, Lia, que apenas disse:

- Elisa...

Durante algum tempo, apenas choraram ao telefone, antes que decidissem falar qualquer coisa.

Elisa já havia tomado as pílulas quando lhe ligou, não havia o que fazer. Lia apenas teve a oportunidade de trocar algumas palavras finais com a amiga, e de sofrer a sua morte novamente.

Sofreu, e sofreu, até estar sentada, aguardando seu ônibus ao lado de seu neto.


(...)


Hemorragia interna

Um erro: amar quem não merece nosso amor, e desmerecer (ou não merecer) o amor que nos dão.

Os danos... Quase sempre além de qualquer medicina.

segunda-feira, abril 28, 2008

Chocolápis (Parte 2 de 4)


(Antes de prosseguir, leia a parte 1)


Trinta anos atrás.

Lá estava Lia, muito mais jovem, muito diferente de quem era hoje.

- Meu Deus... – disse a si mesma, atônita

Lia olhava cuidadosamente para tudo ao seu redor, na cozinha, onde ela estava preparando o jantar daquele dia. Sua faca favorita, seu avental, o microondas, novidade da casa. Um choque, com tudo, e ela fazia questão de sentir cada coisa, em toques suaves de seus dedos, como se temesse que tudo desaparecesse de sua vida novamente.

Nada ocorria ao seu redor, mas ela se lembrava bem do que estava para ocorrer:

Sua filha abriu a porta da casa, violentamente, e a procurou, aos gritos, pelos corredores e ambientes:

- Mãe! Onde você está! Não se esconda! – até a encontrar na cozinha – Quem você pensa que você é?!

- Eu sou a sua mãe, e, se você é muito burra para perceber, eu estou protegendo você desse sujeitinho qualquer com quem você está envolvida.

- Ele é o meu noivo, mãe, o meu noivo, não um sujeitinho.

- Não, você vai respeitar a minha decisão, Carla! Eu ainda sou a sua mãe. Nenhuma filha minha vai sair por aí se envolvendo com um vagabundo qualquer.

- Ele não é um vagabundo! Não fale assim dele!!!

Sim, Lia se lembrava de como tudo começou, e embora não se lembrasse de tudo, muito porque ela preferiu esquecer, ela se lembrava bem de quando sua filha simplesmente foi embora de casa, e ela se lembrava de que ela não havia voltado mais. Lia pôde ouvir a porta sendo aberta com violência. A dor da lembrança dava lugar a uma nova chance...

- Mãe! Onde você está! Não se esconda! – e a encontrou na sala – Quem você pensa que você é?!

- Eu...

- Não, quem você pensa que você é?! Você tem que me respeitar, tem que respeitar as minhas decisões.

- Está bem.

Ouve um silêncio, como uma súbita calma dos ânimos. Carla lhe perguntou:

- Por quê?!

- Porque eu sou como qualquer outra mãe, eu quero o bem da minha filha. Mas, preciso aprender a te dar a liberdade de escolha. Preciso confiar que criei você bem, sei que posso. Quero que você me desculpe, quero muito. Vou pedir desculpas ao Diego, e não direi mais nada. Espero que nós possamos ficar bem uma com a outra.

- Mãe, está tudo bem, calma... Eu me irritei, desculpe...

Lia não percebeu o quanto se atropelou nas palavras. Também não havia percebido que estava chorando, senão agora mesmo. Secou lágrimas, manteve a compostura. Disse:

- Bem, eu estou fazendo o jantar. O seu pai vai chegar mais cedo hoje, mas com fome, como sempre. – a filha riu – Você vai ficar para jantar?

- Sim, sim, posso ficar. – disse Carla, cancelando seus planos de jantar na casa de Diego

Ambas seguiram para a cozinha. Continuaram a cortar cebolas. Lia perguntou:

- Como andam as coisas? Faz tempo que não conversamos direito.

Conversaram, e continuaram conversando durante muitos anos que se seguiram. As coisas com Diego não deram certo, e Lia estava lá para dar seu apoio à filha. Lia se lembrava destas novas coisas, como se fossem de hoje. Lá estava ela, no ponto de ônibus, ao lado de seu neto, de quem se lembrava em muitos bons momentos.

Lia, pálida, segurou a caixinha de chocolates, na qual restavam apenas seis chocolápis agora. O pequeno Luquinhas, a seu lado, lhe perguntou:

- Tudo bem, vovó?


(...)


Amigo de quem?

A pior forma de amizade é aquela que dá um tapinha nas costas quando deveria dar um na cara.

sexta-feira, abril 25, 2008

Chocolápis (Parte 1 de 4)

Sozinha no ponto de ônibus, a velhinha, cansada, pensava em sua vida. Havia congestionamento, e motoristas irritados olhavam para todos os lados, menos para ela: era uma pessoa esquecida, também ali.

- Trânsito difícil. – disse um homem

Susto. Achava que estava sozinha. Olhou para a cadeira a seu lado no ponto de ônibus, e notou um jovem elegante de terno e gravata, e uma cartola (Há muitos anos não via nenhuma).

- Desculpe, não quis assustar. – ele sorriu

- Tudo bem, tudo bem. Sobre o trânsito, não tenho pressa, não tenho ninguém me esperando.

- Isso é triste. – disse o homem

- Você se acostuma.

- Eu duvido muito disso.


(SILÊNCIO, exceto pelo som dos carros em movimento lento, buzinas, e outros barulhos da cidade)


- Escute, a senhora gosta de chocolate? – disse o rapaz, estirando uma caixinha de chocolápis a ela

- Ora, - ela riu – não, mas obrigado, rapaz.

- Mas, afinal, estes chocolápis são muito especiais. – ele disse

Havia algo estranho na forma como ele falou, também havia algo estranho ao redor. Ela logo notou o que havia mudado: tudo ao redor estava congelado no tempo e espaço, não havia som algum, apenas os dois estavam ali, como figuras vivas em um quadro sinistro. Ela perdeu o ar.

- Acalme-se, Dona Lia, tenha calma. – ele disse, suavemente – Olhe para mim. Eu não vou lhe fazer mal algum.

Ele deu a ela todo o tempo que ela precisou, até que eles finalmente conversaram:

- Quem é você?

- Eu sou uma janela para uma nova vida, com menos tristezas, menos arrependimentos, menos dores.

- Estes chocolates? – os quais ela já segurava

- Chocolápis. Ah, eles são muito especiais. Comendo um deles, você terá uma oportunidade de reescrever uma parte da sua história, da sua vida. Você terá a chance de reviver alguns momentos e de fazer as coisas do jeito que gostaria de ter feito. – então, ele riu – Achei bonitinha a idéia de usar os chocolápis para isso. Espero que aproveite.

Ela não tinha o que lhe dizer e, na verdade, quando chegou a pensar em algo, já estava sozinha no ponto de ônibus, segurando a caixinha amarela em suas mãos. O rapaz havia desaparecido no ar.

Naquela caixinha havia sete daqueles chocolápis, e, apesar de ter muito medo, Lia já sabia para onde iria em sua história.


(...)

quinta-feira, abril 24, 2008

O homem ideal

As mulheres dizem que ele deve ter...


Caráter impecável,

Valores inelásticos,

Incomparável determinação,

Honestidade e hombridade,

Notável inteligência e capacidade,

Beleza nobre e viril,

Alma de poeta,

Admirável coragem,

Incontestável valor,

Inalcançável capacidade atlética,

Intensidade romântica,

Eloqüência e oratória,

Perfeita etiqueta, sempre adequada ao contexto presente,

Carisma arrebatador,

Impressionante cultura,

Inesgotável apetite sexual,

Inabalável paciência, tranqüilidade e compreensão,

Irresistível capacidade sedutora,

Poderes mágicos.


E apenas isso.


Ou, elas também podem ficar satisfeitas com a absoluta ausência de todas as qualidades acima. Depende, varia, sei lá, o charme conta, também, ou não. Sei lá. Talvez... Hummm... Não, não. Ah, não se explica, gente!


(Bem, o ideal é não confiar na precisão destas informações, ou de qualquer outra sobre este assunto.)

quarta-feira, abril 23, 2008

Toalha branca

A dor é inevitável, e vai doer mais.

O oponente não parece cansado.

Você pode tentar vencer, ou pode se render.


De maneira ou de outra, a luta continua, com ou sem você.


terça-feira, abril 22, 2008

Escrito nas estrelas (Injeção de realidade)

Atos predestinados, o fio condutor da realidade, o destino.


Muitas vezes, porém, nada dá certo e muitas coisas ruins acontecem. Engraçado isso. O destino não era um espaço só de coisas boas e das melhores surpresas para todos?


Eu não vivi tantos anos, ainda, e nos poucos que andei por aí, e do que ouvi falar, nunca soube de um campo que houvesse se plantado sozinho.


Então, considere: Nessas muitas vezes em que as coisas não dão tão certo, não é bem que “não era para ser”, mas mais que não era para VOCÊ ser. Você não foi o suficiente. A sua preparação não foi o suficiente, seu conhecimento, sua sabedoria, o seu tudo.


Acredite: o universo todo não está conspirando a seu favor.


Afinal, nessa versão dos fatos, onde ficariam todas aquelas pessoas que já nascem com horríveis doenças incuráveis, que nascem na rua, que nascem em terras em guerra, que nascem em famílias que os abusam...? O destino é tão inimigo delas assim? E, esse mesmo destino possui tamanhos carinho e cuidado por você? Você é mesmo tão importante, tão especial, assim?


Se quiser, espere que o seu mundo se movimente por você. Eu vou tentar movimentar o meu daqui.


As minhas estrelas se alinham, formando constelações, sim, mas sou eu quem deve caminhar as linhas. Talvez, você devesse fazer o mesmo, e observar o que acontece.

segunda-feira, abril 21, 2008

Floricultura

Evite regar as flores com ácido.

sexta-feira, abril 18, 2008

Mundo Animal

Então, apontou o dedo em sua cara e lhe disse:

- Mas, você é mesmo um/a...


VACA – Como animal, ela é uma das muitas fêmeas de um macho. De certa forma, isso se distancia da expressão como a utilizamos. Além disso, no caso da vaca é um pouco difícil resistir à investida de um touro. E, enquanto isso, existem mulheres que fazem as suas várias e várias e várias investidas próprias.

CACHORRO – O cachorro não possui cultura, ou autocontrole que não o de adestramento. Para ele, uma fêmea é uma fêmea. O homem, por outro lado, sabe bem o que faz.

PORCO – Mas, o porco não compreende o que é a higiene, nem o que são germes ou o que é a educação. O homem geralmente aprende isso, desde sempre.

BURRO – Mesmo se quisesse, o burro não saberia como ler, como entender, ou como se expressar. Não saberia sequer perceber inteligência. Já uma pessoa geralmente realiza a opção pela ignorância.

GALINHA – Mesmo a ave se estrutura em uma sociedade onde existe apenas um galo. Ocorre um certo contra-senso com a perspectiva aplicada a mulheres.

CAVALO – E, que cavalo entende de etiqueta e convívio? Até mesmo o bom senso já é essa estrutura no ser humano.

PIRANHA – A piranha come (e comida) porque está com fome, e, quando está satisfeita, ela pára. Algumas moças por aí, porém...

COBRA – Mas, do veneno que possui, a cobra só se utiliza para proteção ou para caça. Traições, mentiras, e defeitos humanos não têm muita relação com a pobre cobra.


Isso sem contarmos as diversas formas de tratamento dispensadas aos nossos colegas selvagens.

Quem é o verdadeiro animal da história?


De certa forma, é uma espécie de desrespeito com os animais, realizar esse tipo de comparação.


quinta-feira, abril 17, 2008

Teoria Geral do Amor (TGA)

A Teoria Geral do Amor é a sistematização em termos e princípios do já observável em situações comuns do dia-a-dia romântico da humanidade. Em linhas gerais, divide-se o amor romântico, em quatro espécies:


* Deslumbre

* Suficiente

* Negocial

* Genuíno (ou Supra-Essencial)


O Deslumbre, geralmente platônico, é o amor sem qualquer base real para sua existência, e, assim sendo, é a espécie mais fugaz dos amores. Pode ocorrer em qualquer idade, mas apresenta-se de forma mais comum em idade jovem.

O amor Suficiente é aquele destinado a estabilizar a procura e fornecer o efeito placebo de se viver um real romance. É “suficiente” por ser melhor do que nada, e por exigir pouco esforço de ambos os lados.

O amor Negocial é aquele que se estrutura na busca de vantagens, e interesses, que podem ser das ordens de satisfação das necessidades sexuais, social de status e benefícios, ou econômico de estabilidade e segurança. Alguns teóricos o consideram uma evolução de cunho capitalista do amor Suficiente.

Por fim, o amor Genuíno, também chamado de Supra-Essencial, é o sentimento expresso em ações e palavras. Chamam-no de Supra-Essencial porque ele excede a essência, isto é, ele não é estável por não ser fugaz como o Deslumbre, embora mais intenso, por não ser o bastante senão quando bem mais que o Suficiente, e por não conter, em si, vantagens de ordem Negocial, mas investimentos sem retorno senão para sua própria ampliação. Seu nome original, Genuíno, se dá ao fato de que as demais possibilidades fazem-se passar por ele. Como regra geral, esta espécie exige alguns preceitos para sua continuidade de existência e para sua manutenção:


  • CARINHO

O carinho é expresso em palavras, toques, olhares, no respeito em trato e diálogo, na consideração de coisas que normalmente passariam despercebidas. Também, é expresso na inegável atração magnética das peles envolvidas nesta espécie de vínculo amoroso e que querem sempre se tocar.

  • AMIZADE

A amizade se expressa em realidades de presença e convívio, conquistando-se a confiança, mantendo-se o diálogo, criando-se um histórico, de companheirismo dos bons e difíceis momentos, e também na fidelidade e confidencialidade.

  • ESFORÇO

Para a inovação, e constante construção de uma realidade que merece ser preservada, garantindo-se o reconhecimento de que, por sua raridade, a espécie Genuína merece ser preservada, e de que ela não está isolada das influências externas ou internas.




A Teoria Geral do Amor (TGA) foi desenvolvida com o intuito de apurar as técnicas de reconhecimento e satisfação das necessidades e realidades que se apresentam no universo dos relacionamentos humanos. Os princípios rapidamente enumerados acima, constantes dos conceitos do amor romântico, tido como o mais complexo dos gêneros do amor, são meros guias a serem observados em meio à presença dos ininterruptos movimentos diários, de forma a contribuir para que confusões em gêneros, espécies, e atributos diversos, sejam evitadas.


Boa sorte no amor, para todos. Mas, também, consciência.

quarta-feira, abril 16, 2008

Novo filme (Bônus)

Meu sonho de Ícaro

Perguntam: Quão alto as asas de cera podem voar, antes de derreter?

Mas, não sinto que tenho asas de cera. Não sinto que essas lições que aprendemos, de mirarmos baixo, de não arriscarmos muito, de não tentarmos as maiores das coisas dizem de mim.

Não vou receber esse medo, essas histórias dos velhos, essas vozes desmotivadoras, uma espécie de inveja das possibilidades que foram por si desperdiçadas.

Eu vou tentar voar mais alto, e mais alto...

Desafiar minhas asas ao calor do sol.

E descobrir.

terça-feira, abril 15, 2008

Se vis pacem para bellum

Perceba que, em uma guerra, não são a sua pureza de caráter e boas intenções que vão garantir a vitória.


segunda-feira, abril 14, 2008

Paralelismo

Carlos estava na esquina, esperando para atravessar. Pouco movimento, mas movimento veloz. Aparentemente, todos estavam atrasados. Não ele.

Na verdade, Carlos estava muito de bem com a vida: empregado – começava amanhã; apaixonado – faziam um ano juntos, hoje; animado – grandes perspectivas para sua vida. Apoiou-se no poste da placa, enquanto esperava a sua chance, seu próprio farol de pedestres.

Sorria, por nada, apenas sorria.

Dois carros apressados, um atrasado em um amarelo/vermelho, outro adiantado em um vermelho/verde. Uma batida. Carlos viu claramente um dos veículos capotar, em sua direção. Gelou, mas pensou rápido, e virou-se para correr.

Foi quando viu uma mulher, que aparentemente também esperava para atravessar. A expressão dela, de espanto, estática. Havia tempo para apenas um dos dois. Nunca a havia visto, mas decidiu imediatamente: fixou sua base, e a empurrou com toda a força e o mais rápido que conseguiu.

O carro dobrou o poste em sua direção, e Carlos ficou prensado entre o chão e ambos.

Não conseguiu mais sair dali. Não conseguia respirar: seu corpo, quase tão dobrado quando o poste.

Carlos ficou olhando o céu azul daquele dia ensolarado, apenas por mais alguns momentos. A mulher que ele salvou ficou ajoelhada a seu lado, segurando sua mão, enquanto o jornaleiro chamava a ajuda que não chegaria a tempo.

Sorria, por nada, apenas sorria.

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Ana estava na esquina, esperando para atravessar.

Ela nunca entendeu o porquê.

sexta-feira, abril 11, 2008

Ascensão

O caminho não é seguro.


Mas, não há outro.



Se quiser, fique em casa.

quinta-feira, abril 10, 2008

Pai, reze por mim.

- Por quê?

- Para tentar meus sonhos, eu tenho que arriscar tudo o de real que eu tenho, contra a minha capacidade. Serei capaz, serei merecedor, ou não. – por um momento, houve silêncio – Poder apostar tudo... Chame isso de um ato de fé.

- Você arriscaria tanto assim?

- Eu não arrisco nada que no mundo já não corra riscos.

- Queria ter a sua coragem.

- Isto não é uma questão de coragem, é de visão. Eu tenho muito medo.

- Então...?

- Fé. – sorriu, sem jeito – É a minha única maneira.

- Eu lhe desejo sorte. Vou rezar por você, para que você fique bem, vou pedir que você tenha força.

- Eu vou precisar.

quarta-feira, abril 09, 2008

Clarividência

Falta de visão.


Uma maioria de pessoas é incapaz de perceber a diferença entre uma pedra verde e uma esmeralda. Entre um príncipe e um charlatão. Um aliado e um opositor.


E isso é sua própria falha.


Quantas vezes uma pessoa precisa ser picada por uma cobra antes de conseguir reconhecê-las?


Não há culpa que possa ser transferida. Não há álibis ou bodes expiatórios. Esta culpa é apenas própria. Oportunidades serão desperdiçadas, sentimentos serão magoados, danos ocorrerão, e até mesmo vidas serão arruinadas ou perdidas.


Sim, conhecimento é poder, e pagaremos o preço por nossa falta de sabedoria. Nós sempre fomos e continuaremos sendo os responsáveis por nós mesmos.


A ignorância não nos inocenta.




Abra os olhos para o mundo, o veja com atenção

Perceba o que se passa, repense a declaração

De que tudo estará tranqüilo

De que o mal é só ilusão

E tudo é um conto de fadas

E tudo é só um sonho bom.


Não.


Abra os olhos ao mundo agora, mas, os abra um muito bem

Esse mundo que está ali fora é para você, e pra mais ninguém:

Um perigo, uma alegria, o seu sofrimento, ou a salvação.

Então o veja, reveja, reveja, e entenda:

A culpa ou o mérito, serão ambos seus.


Mas, na vitória ou na derrota, você deverá buscar o conhecimento.

terça-feira, abril 08, 2008

Princípios Aplicados

Princípio cidadão (no trânsito), aplicado à Auto-Ajuda:

Quando uma pessoa estiver totalmente perdida, a não ser que você tenha total certeza de que pode lhe dar uma boa direção, fique em silêncio.


Princípio de combate a calamidades, aplicado a contendas em sociedade:

Combater fogo com fogo apenas aumenta um incêndio.


Princípio gerador de conflitos, aplicado a relacionamentos em geral:

Uma paz sem honra, não é paz, e não merece ser preservada.


Princípio do tratamento médico, aplicado a todas as espécies de interações humanas, individuais ou coletivas:

Deixado a seu próprio custo, o organismo possui a capacidade de reagir e se regenerar, mas apenas até certa extensão, e com resultados tradicionalmente imperfeitos.


Princípio anatocista (juros sobre juros) da capitalização composta, aplicado à demora na tomada de decisões e ação:

O montante a ser quitado sempre é maior, e as dívidas não pagas irão gerar suas próprias dívidas.


Princípio da competição capitalista, aplicado ao universo dos relacionamentos amorosos:

O mercado se movimenta, nenhuma posição é totalmente segura ou garantida. E, quanto melhor a posição, maior a disputa.