Não havia avisado que chegava, e resolveu fazer-lhe uma surpresa. Seguiu para a porta dos fundos, que dava para o quintal. Sabia que seu tio estava ali. Abriu um sorriso e a porta, simultaneamente, e pôde ver logo que seu tio fez o mesmo:
- Fritz!
(Fritz McCain, brasileiro, ex-agente de repressão ao terrorismo internacional)
- Tio João!
(Apenas um velho cozinheiro aposentado, muito amado por seu sobrinho)
Seu tio jogava ping-pong, na sua antiga mesa, com ninguém menos do que a vizinha, uma senhora com quem o velho Tio João sempre trocou bons e velhos flertes, bons amigos, como se ainda fossem dois jovens:
- Fritz! Seja bem-vindo de volta.
- Dona Benta, como vai a senhora?
- Muito bem, não posso reclamar de nada. Você chegou na hora certa. Acabo de trazer um bolo para o seu Tio João.
- Ah, saudades desses bolos. – sorriu Fritz
Subitamente, um latido. E os passos apressados de seu velho cachorro.
- Não pode ser. – disse, com lágrimas vindo a seus olhos
Chokito, o pequenino rottweiler de quando foi embora, há 10 anos atrás, agora enorme. E, ele ainda se lembrava do dono. Derrubou-o, em uma brincadeira muito bruta. Fritz deu risada, animado: seu dia começara muito bem.
Com o tempo, sua animação foi assentando, assim como ele mesmo, seu Tio João e a divertida Dona Benta, que perguntou:
- O que o traz de volta, garoto? Veio ver a Liza?
(Liza, sua velha paixão, ele nunca foi o mesmo sem ela)
- Saudades de casa, tia. – ele riu
Mas, a verdade é que viera, sim, por causa dela. Lembrava-se sempre daquela serenata de amor que a fez, embaixo de um coqueiro, quando descobriu que teria que partir. Voltara, agora, querendo recomeçar, querendo ter com ela a vida que não puderam ter naquela época. Trazia consigo a chave para ter essa vida com ela, embora nenhum o soubesse.
- Bem, mas eu deveria vê-la, de maneira ou de outra.
- Claro, claro. – disse a Dona Benta, sorrindo ao Tio João
- Vá logo ver a sua moça, Fritz.
Ele riu: não enganava ninguém. Disse, apenas:
- Sim, senhor. – então, assobiou e gritou – Chokito, vamos!
Correram, sem nem perceber, pela rua, até a casa de Liza, ele e Chokito, brincando, animados. Mais do que o nervosismo, ficava a vontade de vê-la, de tocá-la, de finalmente ser quem ele sempre quis ser, para si mesmo, e para ela.
Tocou a campainha.
Tocou novamente.
Olhou pela janela. Nada. Nada? Um bilhete! Uma faca o pregava à geladeira!
Em um brusco movimento, chocou-se contra a porta com seu ombro como aríete. A porta desabou, mas antes que tocasse o chão da casa, Fritz já tinha sua arma empunhada, e preparada para qualquer imprevisto.
Procurou alguma ameaça, mas não havia ninguém ali, apenas o bilhete.
- Não. – caiu de joelhos, Chokito veio lhe cheirar a cabeça, o consolando – Eles pegaram a Liza. – disse ao amigo cão
E, ele já sabia o que eles queriam: o Diamante Negro.
(...)
p.s. - Nem peçam Bis. A história tem continuação... (Nesta Sexta, ok?)