terça-feira, dezembro 05, 2006

Tollitur quaestio

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Last man standing

Soa o gongo, e mais uma vez os dois competidores se levantam. Ambos batem os punhos cobertos por luvas, como um sinal de respeito mútuo, voluntário. Ambos resistiram até aquele último assalto, e se admiraram por isso. A dor nos braços, que eles não mais conseguiam erguer em uma boa defesa, era apenas pouco menor que a dor em seu tronco, costelas, e também em seu rosto.

Desferem golpes, socos: verdadeiros coices, mesmo naquela altura da luta. Trocam pancadas, mas nenhum dos dois cai, apenas sente a dor de impactos sobrepostos sobre os músculos. Ouvem-se os golpes atingindo, secos, carne e ossos. Golpes, golpes, o tempo não parece correr, e mesmo assim eles correm contra ele. Cada um precisa saber que ficará com o cinturão ao final da luta, não podem deixar a decisão para os juízes, não após todo aquele esforço.

SOCO! E o lutador sabe naquele momento que seu queixo está quebrado, mas permanece feroz, e desfere respostas à altura de seu adversário. Soco, Soco! E ambos caem, de cansaço e pelos impactos que receberam. O público é tomado por um delírio frenético, gritando e pulando, cada torcedor pedindo a seu lutador que se levante. E, ambos começam a se mover, em um esforço desmedido. Sete! A contagem a seu final, e eles desesperadamente buscam forças para vencer seus próprios limites. Oito! (...)

Tortura

- Conte-me. – disse, calmo e ameaçador, o homem ao prisioneiro

Acorrentado a uma mesa, com seus braços e pernas afastados uns dos outros, e embora apavorado, ele disse, com a voz trêmula, mas decidido:

- Você não vai conseguir arrancar nada de mim.

O homem riu, sadicamente, assim como os demais ao redor. Segurando uma faca cega e enferrujada, próxima ao rosto do prisioneiro, ele disse:

- Ah, mas eu vou arrancar coisas de você. Algumas coisas. E depois vou mostrá-las a você. Você vai gritar, em dor. O tipo de dor que fará você questionar a existência de Deus. E, então, quando eu estiver satisfeito, você poderá falar alguma coisa.

O homem começou a tremer, notadamente, frente a seu carrasco.
(...)

Nova Fábula


Naquela pequena vila no interior, havia uma casa na qual competiam sempre por espaço um rato, um gato e um cachorro, e nenhum deles conseguia se livrar dos demais. Foi quando, um dia, o dono da casa comprou uma cobra da loja de animais e a colocou em uma caixa fechada, na sala. Os outros três animais, sem saber o que havia dentro da caixa, mas, sabendo que era outro animal que chegava, ficaram curiosos. Não demorou muito até que o cachorro parasse ao lado da caixa para perguntar:
- Quem está aí dentro?
- Uma amiga.
- Não minha. Nem a conheço.
- Não seja assim. Abra a caixa, vamos conversar.
- Não. Quando meu dono quiser soltar você, ele mesmo irá abrir a caixa. É assim que as coisas funcionam por aqui. Até lá, boa sorte.
E o cachorro deixou a cena, observada pelo gato, que se aproximou em seguida:
- Quem está na caixa, vamos, fale a verdade.
- Como eu disse: uma amiga.
- Não uma amiga minha, que nem mesmo vi seu rosto.
- Você não tem nem mesmo a curiosidade de descobrir?
- Já aprendi essa lição por um primo meu. Agora eu sou cauteloso.
- Abra a caixa, por favor. É horrível ser uma prisioneira, quero estar livre e conviver com vocês.
- Se você fosse um animal para estar livre, meu dono não a teria colocado dentro de uma caixa. Se depender de mim, você vai morrer aí dentro. Mas, conhecendo meu dono, imagino que ele esteja trazendo alguma jaula ou gaiola para você. Tchau, tchau. Guardo minha curiosidade até lá.
A serpente se enervou, e buscava, freneticamente, uma saída, de algum lado da caixa. Logo, então, veio o ratinho, nascido dentro dos porões daquela casa, e perguntou:
- Tudo bem aí dentro?
- Não. Por favor, abra a caixa. – disse a serpente em um tom já mais calmo
- Você não é perigosa? – perguntou, o ratinho
- Não, acredite.
- Acho melhor não. Você pode piorar a situação aqui da casa. Já sou perseguido por dois aqui dentro.
O ratinho teria ido embora, mas a serpente lhe chamou:
- Espere! – e o ratinho voltou para a escutar – Eu sou, sim, perigosa. Se você me tirar daqui, eu cuidarei do gato e do cachorro pra você.
- Você promete?
- Palavra. Abra...
E o ratinho abriu a caixa.


Moral da história:
Prefira os inimigos que você conhece.

Paranóia - Demência

Subitamente, suado, acorda o pai da criança. Pensa ter escutado seu filho gritando por aquele breve instante antes de acordar: maldito pesadelo. Olha ao redor, pelo quarto escuro, para observar que tudo está em seu lugar, inclusive sua esposa, que dorme tranquilamente ao seu lado. Levanta-se e segue para o banheiro, no corredor, entre seu quarto e de seu filho. Acende a luz, e observa seu rosto no espelho de parede sobre a pia. Cansado, com olheiras. Ainda terá que trabalhar amanhã. Droga.

Pára por um momento, olhando ao redor, por algum motivo obscuro. Talvez ainda esteja estranho de seu pesadelo. Fecha e tranca a porta ao seu lado, e se isola do restante da casa. Abre a torneira, e começa a lavar seu rosto e refrescar sua nuca, abaixado. Então, quando fica novamente ereto, vê no espelho um reflexo que apenas lembra o de seu rosto. Como uma imagem de cera, morta, mas se movendo, o observando. Dá um passo para trás, em recuo, mas esbarra na parede do pequeno ambiente. Seu coração dispara, e salta à sua boca.

O ambiente parece escurecer suavemente, e esfria. O homem abraça a si mesmo, por medo, e tentando obter algum conforto, que não consegue. Na imagem do espelho, o cenário detrás de sua cópia parece diferente. Azulejos escurecidos por sujeira, provavelmente de lama. Não, não são manchas de sangue seco. Não podem ser! A realidade do espelho parece alterar-se pouco a pouco, e sua profundidade muda, a cópia agora sustentando um sorriso sinistro começa a se mover, para perto, e... Meu Deus, ela está saindo do espelho!

O homem treme, e começa a sentir suas pernas moles, fazendo com que não sustente mais seu corpo. Ele cai, sentado, tentando se encolher no chão, observando o espelho acima, de onde a cópia maldita ainda sai, e o olha, olha para baixo. O homem está perdido.

Um grito agudo, de agonia, ecoa pela casa, mas ninguém o ouve. Pelas frestas da porta fechada, do lado de fora, pode-se ver que a luz é apagada lá dentro.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Falsos Alísios

Não há o que esperar, se nós já podemos ir agora:
As condições são favoráveis àqueles que as criam.
Não há o que temer, senão o perder tempo valioso.

Temos asas mais fortes que qualquer tempestade,
Condições de impor nossa vontade contra o vento.
Precisamos apenas de disposição, sabedoria, e partir,
Com esperanças, mas sem esperar por coisa alguma.

Corpus Juris Civilis

Para que não houvesse, entre cidadãos, exagero na disputa de interesses que chegasse a afetar a estabilidade do restante da sociedade: um código que regule as ações deles. Para que cada organização, quando tratar com cidadãos, ou com outras organizações não se utilize de malícia para obter ganhos à custa da outra parte. Para todas as formas de negociações e para as mais diversas interações possíveis entre os cidadãos.

Somos tão pouco civilizados que precisamos da intervenção do Estado para regular cada de nossas interações uns com os outros?

Sim, Hobbes tinha muita razão: Nós somos a Leviatã. Cada um de nós, e a nossa soma, uma sinistra ameaça a nós mesmos e tudo ao redor. Triste que nossa salvação seja colocada na compilação de regras que nós mesmos criamos: Sabemos, com clareza, o mais certo a fazer, mas somos fracos o suficiente para precisar que nos obriguem, porque sabemos que não o faríamos por conta própria.

Mythological Rap

All right, let’s go. Orpheus, where´s my harp?
Argonauts, greek mythology (No doubt)
I’ma send you to Hades. Kick it…
-----

Sippin on some nectar, drinkin from that nectar
And i´m up-up-and-away, all along, past Icarus
I’m faster than the Pegasus, or even then Bellerophon,
And I can see from here above that old ass Mount they call Olympus.

I´m not quite sure you follow me: I lived the Heroic Age
Been to Elisium and to the stages, right here on Athens,
I invented, I create. See I’m like my boy Hephaestus,
I tamed the furies, and pinned Prometheus when I gave away the fire,
Take mine. It’s just a do as Hermes would. I ain’t paying it, oh no, I get my rides for free, I´m touched by Midas
( Speaks: ) It’s been too long since I’ve been swimming the Styx, I guess a silver coin does seem cheap now… (You know, I told you)

(chorus)
In my time I did love Helen (Well, who didn´t?), but then I loved so Aphrodite (So it figures)
You think you got my Achilles Heel? You gotta trust me, you’re misguided.
I got alliances; from the Trojans to the Spartans, and I even got some deals with Apollo and Poseidon
I ride with Argonauts (Right on), and I look for the golden fleece (Where the hell is it?), I got Athena as my girl (Not bad), And ambrosia for my meals (Tasty), I´m thessalian


(Etc, etc.)

*Entre parênteses significa participação, fora do ritmo padrão, porém dentro da melodia, de uma terceira parte. Ou seja: é o amigo rapper...Hahahaha. As vírgulas são menos recursos sintático-semânticos, e servem mais para indicar alterações no ritmo (que não está explicitado, mas poderia ser imaginado, talvez...rs)

Fiat Lux

E as bestas foram forçadas de volta ao abismo.

Star-System

O homem precisa de modelos: modelos para seguir, modelos para admirar, talvez, às vezes, apenas para observar. O homem aprende por modelos, desde o pai e a mãe, para as amizades, até os modelos distantes, do cinema e da literatura. A realidade, como é compreendida pelas pessoas, é formada de paradigmas, como se o mundo estivesse preservado em uma pequena esfera de cristal, conservado para sempre, nunca em mutação. Por isso, talvez, as pessoas tenham dificuldade de se adaptar à novas realidades, ou resistam às mudanças que presenciam conforme a idade se aproxima.

Como diria Jung, o homem possui modelos, inconscientes, que ele exterioriza de acordo com suas próprias necessidades ou de acordo com a situação. Modelos que ele busca nas demais pessoas, e que o ajudam a viver em uma sociedade que ele pode compreender, mesmo que de uma maneira um pouco determinista. Modelos que ele irá criar, se preciso for, para satisfazer a essa sua própria necessidade. Seja na arte, seja no convívio com os demais, existirá uma pequena peça em andamento.

A verdade é que o homem aprecia o mundo de fantasia no qual ele vive. As pessoas, como regra geral, teriam tomado a pílula azul. Ele prefere ver o algodão doce às nuvens. O homem é muito idealista, e por isso ele compra idéias e se interessa pelas pessoas, mesmo as apenas personagens, com tanta facilidade. O homem é uma boa audiência.

Dux Bellorum


Queimem as árvores e floresta à frente,
Salguem as terras de seus oponentes,
Encerrem sua linhagem, deixem o pó.

Sangrem a vida para fora de cada,
Dos mestres e de suas bestas, e,
Deixem para trás cidades vazias.

Mantenham a guerra dos monstros,
Para sempre, longe de nossas casas,
E do olhar puro das nossas crianças,
Com a proteção de nosso braço forte.

Ergam as nossas bandeiras, e gritem:
“Lutamos a melhor das lutas, e morremos,
Mas, deixamos a todos o legado de paz”
Enquanto a guerra prosseguiu, bestial,
Sádica, incontrolável, e sem propósito.

Ao final das contas, somos os mesmos:
Lado a lado, ou separados por espadas,
Nascemos, lutamos, e morremos loucos,
Todos, nessa miséria de nossos ideais,
Navegando, cegos, para o grande vazio.

Folclore

Lobisomens, sacis, e conselhos para as moças ainda na idade pura. Mulas-sem-cabeça, crendices, costumes e tradições populares. Mais uma forma de interação, de manifestação cultural, social. A base mais pura do que caracteriza e difere todas as culturas, e, apesar de aparentemente relegada ao plano mais popular, difundida, ao menos como influência, por todas as classes.

O Brasil, essa panela de pressão cultural, apesar de não assumir uma identidade clara neste sentido, é consideravelmente rico em sua produção cultural. Talvez, porque essa manifestação não é uniforme, mas regional, ocasional, errática. As manifestações culturais do Brasil são dialéticas, estando em construção permanente. Absorvemos, criamos, alteramos, recriamos, e geramos nova carga cultural, que passaremos à frente.

E, uma vez que a maior parte dos conhecimentos que nós compartilhamos na sociedade foram obtidos através de aceitação coletiva (consenso, convenções) o que torna as histórias passadas de pessoa a pessoa, de filho a filho, menos reais, ou importantes? É a beleza da simplicidade, e de como dela deriva tudo de mais rebuscado e complexo.