quarta-feira, outubro 31, 2007

Ética a L.R.S.A.

Espero que vocês sejam boas pessoas, e que vivam segundo o que acreditam. Espero que vocês estudem, e conheçam muitas coisas, mas que também tenham vivido muitas delas. Espero que tenham boas oportunidades e saibam aproveitá-las, porque isso é ser merecedor de suas chances. Espero que vocês amem, sem medo, incondicionalmente, e continuem amando dessa maneira, por tantas vezes que se magoem, o que sempre ocorrerá com qualquer pessoa.


Sejam pessoas calmas, e tenham paciência com os outros. Sejam generosos, e tenham sempre tempo para ajudar seus amigos e mesmo seus inimigos, se vocês chegarem a se tornarem pessoas mais fortes do que eu fui, o que eu espero que aconteça. Tenham braços abertos e perdoem erros, e aceitem as falhas dos outros, mas tentem sempre ajudá-los a melhorar, dando a eles o tempo que precisarem.


Tenham fé, e acreditem em boas coisas, acreditem nos melhores lados das pessoas, tenham esperança de que as coisas um dia serão melhores, mas compreendam seu papel na realização desse futuro e ajam. Sejam firmes no que acreditam, mas estejam sempre dispostos a escutar novos lados e tenham a maturidade para saber que nem sempre vocês estarão certos em suas discussões. Que vocês sejam grandes o suficiente para admitir quando estão errados, e grandes o suficiente para saber que não são infalíveis, e reconhecer que o mundo é construído com a participação de todos e não apenas a sua.


Sejam corajosos, inabaláveis, mesmo quando com medo. É natural sentir medo, e que seja natural também que vocês enfrentem seus medos, por difícil que isso pareça tantas vezes. Lutem por um mundo melhor, mais justo, começando com as pequenas batalhas dos seus dia-a-dias. Sejam corretos e transformem os demais pelo exemplo, dêem a força aos demais ao mostrar a eles que é possível, e façam isso com a graciosidade de quem nunca se esforça mas realiza naturalmente.


Pensem, reflitam, sobre suas ações e sobre os demais, entendam suas motivações e as alheias, e saibam que mal-entendidos podem ter um custo maior do que vocês podem calcular. Cuidem de si mesmos, de sua saúde, exercitem-se mental e fisicamente, tanto para que sejam melhores como para que possam viver mais tempo e aproveitar mais das coisas da qual tantas pessoas possuem tanta saudade. Sejam prudentes, em suas vidas e com os demais, nunca se cansem, nunca descansem, nunca relaxem, pois tudo que realmente terá importância depende de vocês, de forma ou de outra. Sejam éticos, e não vivam apenas para si mesmos. Eu acredito em vocês (talvez mais do que acredito em mim mesmo).

terça-feira, outubro 30, 2007

Psicose (1/3)

Psicose, esquizofrenia, disse o médico. Mas, o que sabem esses médicos hoje em dia? Faculdades de medicina por toda parte. Se ele mesmo quisesse, participaria de algum vestibular por aí, passaria e quando fosse médico se daria outro diagnóstico. Mas, não fazia isso. Andava pelas calçadas molhadas naquela avenida escura e abandonada à madrugada. Ouviu passos. Escondeu-se rapidamente, para observar de posição privilegiada quem se aproximava. Talvez fosse o assassino que estava procurando. Certamente ele o estava procurando em retorno, devia estar.

Não. Apenas um casal de apaixonados. O susto pela perspectiva do encontro demorou a passar. Seu coração ainda desacelerava, muito lentamente. Continuou a caminhar, levando suas mãos secas aos bolsos, de onde puxou cigarro e fósforo. Geralmente não fumava, mas estava tenso naquela noite. Andando chegou à sua casa, mas passou reto por ela. Morava sozinho e ninguém o esperava.

Seguiu para um bar que freqüentava. Sentou-se na mesma cadeira de sempre ao bar, quando notou a presença dela, em uma mesa não muito longe de onde estava. O cheiro daquele perfume cruzava o espaço que os separava. Fragrância doce, grilhões que o prendiam àquela mulher fatal. Em um momento breve demais ela se aproximou. Sedutora em seu vestido vermelho. Empurrou o cabelo para trás dos ombros e pediu fogo com um cigarro em mãos. Puxou o isqueiro de seu bolso e o acendeu, com calma. Ela apenas agradeceu, lhe deu as costas e retornou para onde viera, sentando-se sem sequer o olhar novamente. Ele riu para si mesmo. Já gostava dela.

O pianista estava tocando algo diferente aquela noite, talvez estivesse com o coração partido. Ou, quem sabe, fosse apenas ele. O assassino deixava pistas para trás, o provocando a o descobrir. Pistas desconexas, uma brincadeira de charadas. Seu celular vibrou: era seu parceiro. Podia ser algo importante, vital talvez, mas ao mesmo tempo podia ser mais uma pista, ou quem sabe mais um assassinato. Não estava com cabeça para atender àquilo agora. Droga! Estava ficando paranóico e pessimista. Atendeu a ligação. Um bando se sentenças incoerentes, todas relacionadas ao seu médico. Desligou na cara do amigo, ainda jovem e inexperiente, sempre preocupado demais.

Colocou dinheiro na mesa, para pagar por seu drinque e para enviar outro para a dama de vermelho. Um Martini. Propôs um brinde silencioso a ela, de onde estava. Ela o aceitou com a mais suave das reverências. Ele deixou o bar. Acendeu um de seus próprios cigarros, e caminhou seguindo a calçada, ainda se afastando de casa. Geralmente não fumava, mas estava tenso. Sentia agora falta do som do piano, em meio à sinfonia desorganizada de carros e motos ocasionais.

Um carro de polícia pára ao seu lado. Um conhecido? Não, não o conhecia. O policial vem até ele para levá-lo dali, sem qualquer apresentação de distintivo. Corrupto! Estava sem sua arma, não gostava de andar com ela. Mesmo assim conseguiu se armar, puxando o revólver da cintura daquele homem. O rendeu e algemou contra um poste. Ligou para a delegacia dando o endereço do local. Seguiu caminhando. Não estava interessado em preencher boletins de ocorrência como fizera tantas vezes. Seu cigarro acabava. Não acendeu outro, pensando em sua saúde, mas jogou a bituca ao chão e a pisou.

Retornou até sua casa. A maçaneta estava forçada, alguém estava dentro. Por sorte ainda estava com a arma do policial de antes, a sua podia já estar na mão de quem quer que seja o invasor. Algo lhe dizia que era o assassino. Ligou para a polícia, dando seu endereço e identidade, e em seguida para seu parceiro, contando-lhe o ocorrido, apressadamente. Guardou seu celular. Com atenção redobrada seguiu casa à dentro, sem acender as luzes para não se acusar, mas com o revólver em mãos.

Passo a passo. Engatilhou a arma, tentando fazê-lo silenciosamente. A tonalidade azulada que aquela casa escura assumia o assustava. Sempre participava de situações como aquela, mas sempre era como a primeira vez. Coração palpitando, pronto para saltar à sua boca. Boca seca. Chegou à escada. Por algum motivo, simplesmente sabia que o invasor estava no andar de cima. Sabia, mas estava receoso demais para subir. Parou aos pés da escada. Seu celular vibrou lhe dando um dos melhores sustou que já tomou, e já havia tomado alguns muito bons. Era seu parceiro, mas nada do que dizia fazia sentido. A realidade é que a maior parte do que ele via recentemente não lhe fazia nenhum sentido. Pensava nisso, quando ouviu um barulho, vindo do andar de cima. Desligou o telefone antes mesmo que seu parceiro terminasse de falar. Continuou subindo. (...)

segunda-feira, outubro 29, 2007

Castelos (Retorno)

Castelos nas Nuvens

O mundo não é perfeito, disto temos certeza. Vemos seus problemas diariamente, sentimos muitos deles na pele, gostaríamos que algumas coisas fossem melhores, e esperamos ansiosamente (ou ansiamos esperançosamente) por uma mudança que, no fundo, sabemos que jamais virá.
O mundo é de um concreto duro demais, que desgasta os pés de sonhadores que pensam estar caminhando em nuvens. A realidade possui requintes de crueldade e tem maneiras próprias de fazer um cínico de um poeta. Mas ela não possui intenções, apenas é como é, boa ou ruim a quem quer que seja, e vai continuar devastando sonhos com sua indiferença, até que aprendamos a lidar com ela.
O garoto pode viver em seu castelo nas nuvens, o homem deve lutar por cada centímetro. Cresça!, então, e aprenda a deixar sonhos para o descanso da noite. O dia terá em seu lugar metas, objetivos, e planos para obtê-los. Sonhos são as mentiras que as pessoas contam a si mesmas sobre seu próprio futuro: reconfortantes, sim, mas nada mais.


-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-


Castelos de Areia

A vida não é fácil, nem justa. Esforços são feitos em vão, algumas chances nunca são dadas, e méritos não são reconhecidos. Todas as ações, apenas castelos de areia aguardando a maré alta. E pequenos-grandes arquitetos sentem a falta de propósito de um exercício tão finito de suas capacidades. A mortalidade não só do homem, mas de suas ações, um cansaço por todas as coisas passadas e presentes que levam ao temor do futuro, e à inação.
Muitos dos esforços serão em vão, a maioria deles, de fato. Mas, sem qualquer esforço será o tempo, então, passado em vão, todo ele.
A maré subirá, ela sempre sobe, cedo ou tarde. E, seja ela o tempo ou a ação do homem ou uma eventualidade ou tantas outras coisas, ela vai desfazer os pequenos castelos de areia espalhados pela imensa praia, e reduzi-los a nada. É apenas areia, afinal, mas um castelo, ainda que momentaneamente. Aproveite o tempo antes da maré alta, sem receios, sem dores, apenas seja o for, da melhor maneira possível.