terça-feira, fevereiro 26, 2008

Genecídio


Pouco a pouco, estudos em neurologia, psicologia e genética começam a atrelar padrões de comportamento, personalidades e outras características humanas à influência da genética. O que ainda não é totalmente comprovado, e ainda existe apenas em um universo teórico, poderia ter repercussões sociais como nada antes visto na ciência.

Digamos que seja possível encontrar uma carga genética por trás da criminalidade, por trás da desonestidade, ou da incapacidade intelectual. Digamos que comportamentos sociais nocivos ou benéficos à sociedade conseguissem ser localizados no código genético de um ser humano. Isso não justificaria a regulação da sociedade em busca da criação de uma “genecracia”? E, não justificaria, também, a eliminação dos genes que portassem perigo para a sociedade e seu futuro? Não necessariamente através de extermínio de indivíduos, mas possivelmente através de esterilização desses indivíduos.

Alguém pode negar que seria pelo benefício da sociedade a impossibilidade de criminosos genéticos deixaram descendentes? E, poderíamos negar que seria para o bem comum termos crianças mais inteligentes, mais sociáveis e esforçadas, criando pouco a pouco um mundo de evoluções científicas e tecnológicas, sistemas econômicos menos falhos, sociedades mais equilibradas? Uma perda para a individualidade, mas, quem saberia, se todos pouco a pouco se tornariam os mesmos?

Essa espécie de lógica pura direcionada à ciência, desconsiderando todo o custo humano envolvido, já foi vista na nossa história mundial recente, em uma Alemanha muito diferente da que conhecemos hoje. Existem seus méritos, e seus deméritos, e como em qualquer forma de governo, sistema econômico, ou outra forma de organização social: ela tem suas funções.


(Hummmm... Polêmico... Dê o seu pitaco, também.)

5 comentários:

Patty Marie Jones disse...

Se pai é quem cria e não quem bota no mundo, será que a simples existência de genes é o suficiente para desenvolver essas características? A mesma criança com um coeficiente x de inteligência vai ter diferentes resultados dependendo do quanto for estimulada. Da mesma forma, uma pessoa que tem os genes da violência pode ou não manifestar uma atitude destrutiva dependendo do tratamento e da educação recebida. Quanto à parte da evolução, acredito que o grande mérito do homem tem sido combater a seleção natural em prol de laços sentimentais. Há centenas de anos, se você não era capaz de, sozinho, se curar de determinadas doenças, você morria, sobravam só os mais fortes. Hoje a medicina ajuda a manter vivos os indivíduos que não estariam no topo da cadeia de sobrevivência, mas que nem por isso são menos queridos. A discussão racional é complicada, mas quando envolve sentimentos torna-se infindável. Muito bom post!!!

Bjinhs
Bruna
(de volta aos comentários)

André LF disse...

Gostei do texto, Fábio. ele apresenta questões muito interessantes para todas as áreas que lidam com esta estranha espécie que somos nós. Acho que vc deveria dar uma continuação ao tema.
Li o comentário da Patty. Lucidamente, ela afirma que "a mesma criança com um coeficiente x de inteligência vai ter diferentes resultados dependendo do quanto for estimulada". Sim, sim concordo. Há praticamente um consenso na psicologia sobre o amplo poder do estímulo comportamental sobre os imperativos genéticos. Entretanto, a problemática proposta neste post do Fábio vai muito mais além destas verdades aceitas pela psicologia e pela pedagogia. Imaginemos que a ciência descubra que a influência genética é um fator muito mais poderoso do que os estímulos da sociedades, dos pais, etc. Reconheço que tal descoberta elevaria o determinismo a um status divino. Porém, comprovada a supremacia genética sobre a estimulação ambiental, como exigir uma conduta ética e cristã de um criminoso que é subjugado pelo "gene da criminalidade"? Ou então como cobrar uma conduta casta e pudica de uma mulher dominada pelo "gene da messalina" (é sério)? Este tema é perturbador. Apesar do avanço da psicologia, das neurociências, ainda não existem, sobre este tema, tantos dogmas devidamente comprovados.

Fábio Félix disse...

É uma questão perturbadora, realmente. Acho que qualquer das questões fundamentais (Os clichês da filosofia: "De onde viemos?" "Pra onde vamos?", etc.) possuem as possibilidades mais sombrias.
Acho que é dentro dessas questões que residem todos os males do mundo, dentro das interpretações, das hipóteses geradas. São, afinal, as questões do ordenamento do universo como um todo, o propósito.
Onde se posicionaria a alma, se fosse descoberta essa ligação direta entre os genes e a personalidade? O que ocorre com livre-arbítrio? E com o aspecto místico do ser humano?

Bianca Feijó disse...

A personalidade começa a ser desenvolvida quando se é criança, logo, é lógico que o ambiente na qual vc convive influi...mas depois se adquire uma personalidade própria que tende a gerar suas próprias peculiariedades, e dela cada uma sabe o que faz e o resultado que terá, logo governo meu caro, é apenas uma questão de gerar oportunidades,pois correr atrás de oportunidades só depende de nós em qualquer parte do mundo, aqui ou na Alemanhã...

BeijosBeijos

Rackel disse...

'Genecracia' seria uma nova forma de seleção natural!??!? (nesse caso, artificial)

Seu texto me lembrou um filme cujo nome eu não lembro agora (acho q era gattaca)

mto bom post... se não fosse meu sono, teceria um comentario mais profundo aqui... mas vou deixar pra outro post!

bjão