segunda-feira, julho 30, 2007

PARANÓIA / DEMÊNCIA / LOUCURA

Ela acorda, com um frio arrepio que sobe por sua espinha. Treme um pouco, enquanto se senta na cama do quarto escuro, onde está de camisola e coberta apenas por um fino forro de tecido. Onde está seu marido? Puxa seu forro até a altura do coração, como se ele a protegesse, enquanto observa os espaços a seu redor, onde as sombras, apenas sombras, parecem a observar silenciosamente. Por que ela subitamente acordou com medo?

Encolhe-se em sua cama: mulher adulta. A fresta abaixo da porta não mostra qualquer luminosidade vinda do lado de fora. As cortinas do quarto bloqueiam sua visão da janela. Ela está isolada. Ofegante, tornando-se apavorada, e começa a enxergar movimentos nos objetos a seu redor. Engasga de medo, mas salta da cama, e corre em direção ao interruptor, ao lado da porta, para acender as luzes. Joga-se contra a parede, e contra o interruptor, mas as luzes não se acendem. Força, então, a porta, que não se abre. Está presa, está presa.

Tenta voltar correndo para sua cama, mas algo segura seu pé e ela cai, apavorada, tentando se proteger da escuridão ao redor, levanta, aos tropeços, aos esbarrões, corre, ofegante, e salta em sua cama, agarrando seu forro para se cobrir até a cabeça. Ela fica embaixo de sua proteção por um tempo considerável, quando retoma a coragem de olhar o que ocorre à sua volta.

Alguém! Uma figura sinistra, a observá-la do canto mais escuro do quarto. Não consegue a reconhecer, e nem tenta: salta, novamente, para baixo de suas cobertas. Chorando, pálida, sente seu sangue esfriar do medo. Está com muito medo. Treme, e tenta se controlar, se esforça para não fazer barulho, ou movimentos bruscos. Mas, mesmo em seu momento de pavor, escuta a porta se abrindo, lentamente.

Demora a tomar a coragem para olhar através de um espaço nas cobertas, mas o faz, e observa o caminho para fora. Levanta, trêmula e lentamente, da cama. O chão frio lhe dá calafrios a cada passo cauteloso, assustado. Ela chega ao corredor que separava seu quarto do de seu filho, que está trancado, assim como o banheiro. Ela se volta para a outra e última porta, já aberta, que a levará em direção à escuridão maior da sala e cozinha. Ela segue naquela direção, com suas pernas perdendo sua força: não conseguem andar senão muito lentamente.

Olhou para as enormes janelas na sala, mas elas eram como espelhos, de onde ela podia ver apenas seu reflexo a observando. Mas, não era ela, era algo: alheio à sua consciência, a cópia. Movia-se como ela, fazia o que fazia, mas não era ela, ela sabia. Tremia, sozinha, naquele ambiente, que parecia esfriar. Subitamente, começou a escutar sua caixa de música, tocando de seu quarto, preenchendo o ar, criando uma atmosfera sinistra. Ela chorava, em um desespero silencioso.

Casa vazia, a música, a escuridão e as sombras que pareciam vivas, seu reflexo a observando. Correu para a porta, logo à frente, e a destrancou e abriu. E, além dela: breu, como se a escuridão tomasse o restante do prédio. Ela jamais teria coragem de dar um passo afora. Na verdade, ela sequer tinha coragem suficiente para olhar naquela direção horrível. Sentia coisas ruins daquele vazio. Fechou a porta com força, e se afastou dela rapidamente: começou a chorar. Suas pernas amoleceram, e ela sentou sobre elas, apavorada de tudo ao redor.

Ouviu a porta do banheiro se abrir. A silhueta de seu marido surge, ao final daquele corredor escuro que leva até a área dos quartos. Ele se aproxima caminhando, lentamente: não é seu marido. É apenas algo parecido, que arrasta a mulher gritando por seus cabelos, para a cozinha...

(...)

De uma fresta da porta, dois homens em jalecos brancos tomam notas sobre o estado da mulher amarrada à cama.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu adoro textos de terror e o seu faz bonito entre os melhores

Senti calafrios...

Parabéns!

bjocas,