segunda-feira, abril 14, 2008

Paralelismo

Carlos estava na esquina, esperando para atravessar. Pouco movimento, mas movimento veloz. Aparentemente, todos estavam atrasados. Não ele.

Na verdade, Carlos estava muito de bem com a vida: empregado – começava amanhã; apaixonado – faziam um ano juntos, hoje; animado – grandes perspectivas para sua vida. Apoiou-se no poste da placa, enquanto esperava a sua chance, seu próprio farol de pedestres.

Sorria, por nada, apenas sorria.

Dois carros apressados, um atrasado em um amarelo/vermelho, outro adiantado em um vermelho/verde. Uma batida. Carlos viu claramente um dos veículos capotar, em sua direção. Gelou, mas pensou rápido, e virou-se para correr.

Foi quando viu uma mulher, que aparentemente também esperava para atravessar. A expressão dela, de espanto, estática. Havia tempo para apenas um dos dois. Nunca a havia visto, mas decidiu imediatamente: fixou sua base, e a empurrou com toda a força e o mais rápido que conseguiu.

O carro dobrou o poste em sua direção, e Carlos ficou prensado entre o chão e ambos.

Não conseguiu mais sair dali. Não conseguia respirar: seu corpo, quase tão dobrado quando o poste.

Carlos ficou olhando o céu azul daquele dia ensolarado, apenas por mais alguns momentos. A mulher que ele salvou ficou ajoelhada a seu lado, segurando sua mão, enquanto o jornaleiro chamava a ajuda que não chegaria a tempo.

Sorria, por nada, apenas sorria.

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Ana estava na esquina, esperando para atravessar.

Ela nunca entendeu o porquê.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caramba, Bonito!
Coloca coincidência nisso, hein?! ;)
Mas, como eu disse na SMS, o texto é intenso (triste e heróico)!
Atitude pouco vista, hodiernamente.
Gostei! Faz pensarmos mais em amor ao próximo!
Super Bubeijos

Henrique Monteiro disse...

Ele simplesmente sorria, e ela nem sabia o porquê de estar ali...
Ela teve o papel de anjo da morte, e acabou renascendo. Se ele fosse egoísta a ponto de salvar a si mesmo, ela teria morrido...

Só falta saber se a vida dela ia bem como a dele...

Rackel disse...

Q sinistro... se eu tivesse no lugar dessa sra, teria ficado muito triste de ver que alguém morreu pq eu não tive reação ao ver um carro voando em minha direção... acho q eu nunca me perdoaria.

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