sexta-feira, abril 25, 2008

Chocolápis (Parte 1 de 4)

Sozinha no ponto de ônibus, a velhinha, cansada, pensava em sua vida. Havia congestionamento, e motoristas irritados olhavam para todos os lados, menos para ela: era uma pessoa esquecida, também ali.

- Trânsito difícil. – disse um homem

Susto. Achava que estava sozinha. Olhou para a cadeira a seu lado no ponto de ônibus, e notou um jovem elegante de terno e gravata, e uma cartola (Há muitos anos não via nenhuma).

- Desculpe, não quis assustar. – ele sorriu

- Tudo bem, tudo bem. Sobre o trânsito, não tenho pressa, não tenho ninguém me esperando.

- Isso é triste. – disse o homem

- Você se acostuma.

- Eu duvido muito disso.


(SILÊNCIO, exceto pelo som dos carros em movimento lento, buzinas, e outros barulhos da cidade)


- Escute, a senhora gosta de chocolate? – disse o rapaz, estirando uma caixinha de chocolápis a ela

- Ora, - ela riu – não, mas obrigado, rapaz.

- Mas, afinal, estes chocolápis são muito especiais. – ele disse

Havia algo estranho na forma como ele falou, também havia algo estranho ao redor. Ela logo notou o que havia mudado: tudo ao redor estava congelado no tempo e espaço, não havia som algum, apenas os dois estavam ali, como figuras vivas em um quadro sinistro. Ela perdeu o ar.

- Acalme-se, Dona Lia, tenha calma. – ele disse, suavemente – Olhe para mim. Eu não vou lhe fazer mal algum.

Ele deu a ela todo o tempo que ela precisou, até que eles finalmente conversaram:

- Quem é você?

- Eu sou uma janela para uma nova vida, com menos tristezas, menos arrependimentos, menos dores.

- Estes chocolates? – os quais ela já segurava

- Chocolápis. Ah, eles são muito especiais. Comendo um deles, você terá uma oportunidade de reescrever uma parte da sua história, da sua vida. Você terá a chance de reviver alguns momentos e de fazer as coisas do jeito que gostaria de ter feito. – então, ele riu – Achei bonitinha a idéia de usar os chocolápis para isso. Espero que aproveite.

Ela não tinha o que lhe dizer e, na verdade, quando chegou a pensar em algo, já estava sozinha no ponto de ônibus, segurando a caixinha amarela em suas mãos. O rapaz havia desaparecido no ar.

Naquela caixinha havia sete daqueles chocolápis, e, apesar de ter muito medo, Lia já sabia para onde iria em sua história.


(...)

6 comentários:

Anônimo disse...

Bonito,
Ficou um gostinho de quero mais...
Ao ler, senti uma sensação muito gostosa... leve (nao sei explicar) :)
Quero que chegue rápido a segunda-feira, depois a quarta e enfim a sexta... rs
Estou daqui, anciosa esperando!
E, feliz por ter contribuido para um de seus melhores contos... se nao for o melhor! :)
Super BUBEIJO

Fala, Garoto! disse...

Quero Chocolápis. Onde tem para vender?! Mas, enfim, fico com os dias que Deus me concede. Não voltarei ao tempo, contudo, terei novas oportunidades de novos acertos. Abs

Henrique Monteiro disse...

Se ela pudesse me dar apenas um, estaria ótimo.

[esperando pelas outras três partes]

Abração.

Bianca Feijó disse...

Então, muito bem escrito o conto, mas confesso que gosto muito mais de "Tempestades".

A mensagem na qual vc quis passar é pura e percebe-se claramente no texto.

B.E.I.J.O.S

Carolina Teixeira disse...

Adoro as histórias com 'partes'...aguardo a continuação com ansiedade!!!

Rackel disse...

'E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar o que eu fiz
Quem então agora eu seria?

Ahh tanto faz
Que o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar
Mas eu quem será?
(...)
E se eu fosse o primeiro
A prever e poder desistir
do que for dar errado?

Ahh Ora se não sou eu quem mais vai decidir
O que é bom pra mim
Dispenso a previsão!
Ahh se o que eu sou é também
O que eu escolhi ser
Aceito a condição!'
(Los Hermanos, album Ventura)

Acho q essa letra, esses trechos em especial, resumem bem o que eu penso a esse respeito...

=)