quinta-feira, maio 01, 2008

Calmaria – Parte 1/X

Pedro olhava a vitrine. Olhava as roupas dos manequins daquela loja fechada. Era noite, e não chovia. (Por que isso era relevante?)

O que eram as cicatrizes de suturas por todo seu corpo, braços, mesmo rosto? Não reconhecia seu reflexo, nem tinha certeza se seu nome era realmente Pedro. Esse era o nome que lia no macacão que usava.

Seu corpo todo doía, MUITO, por dentro e por fora.

Wooosshhh... Um súbito pé-de-vento lhe passou, deixando arrepios

A rua estava vazia, e seus postes luminosos alternavam entre os acesos e os apagados, que criavam zonas de total escuridão.

Sinistro.

Toc-Toc-Toc!, estourou um som bem onde estava, e seu coração disparou como mil rajadas

- Saia da minha vitrine! – gritou um homem do lado de dentro

- Desculpe. – disse, baixo, baixo demais para que o homem o ouvisse, e seguiu caminhando

Para onde ia? Não sabia. Apenas sabia da dor que corria por seu corpo, e que sentia ao menor tremor de cada de seus passos.

Ti – tu – titi – tu ... Ti – tu – titi – tu ... tocou um celular, de algum lugar próximo dele.

Olhou ao redor...

Ti – tu – titi – tu ... Ti – tu – titi – tu ...

O som vinha do bolso do macacão.

Olhou o nome na tela: Marcos. Não atendeu. Não sabia quem era, não saberia o que dizer. Rejeitou a chamada.

- Gostei do toque. – ouviu alguém dizer, em tom de brincadeira

Óu óu... veio o som do alarme de um carro sendo desligado, e o veículo sendo destrancado, e com aquele som: o brilho rápido dos faróis

O quê? Onde? Como?

Um homem surgiu da escuridão: Ele trajava um suéter azul claro, e uma calça social.

Um carro, aparentemente, já estava ali na rua, estacionado ao lado de onde estava.

- Perdido, amigo? – o homem perguntou, devido à expressão desnorteada de Pedro

- Não sei. Não me lembro. – respondeu

- Você está bem? – aproximou-se o homem – Escute, se você quiser, eu posso deixar você em um hospital.

- Eu acho que gostaria... – respondeu, já quase nauseado pelas dores

- Vamos, então. – disse o homem

TRIC! – abriu-se a porta

Entrou no carro.

TRÔC! – fechou-se a porta

Pedro, com um frio em sua barriga, apenas encostou sua cabeça na janela fechada do lado do passageiro, e ficou a observar a cidade deserta daquela noite.

De alguma forma, ele sabia que a calmaria não duraria.

(...)

3 comentários:

Rackel disse...

Isso me lembra o 'tempestade', heim!
rsrs

Fábio Félix disse...

Hahahaha... E não foi justo a srta. quem solicitou a continuação? ;)

Ju Tagliari disse...

kd a continuaçãooo??????