domingo, outubro 15, 2006

Os doze poemas

Um para o primeiro:

Sabia que não sabia, e tentei.
Acreditava poder descobrir e falhei.
Deixei para trás minha casa.
Deixei para trás coração.
Deixei a mim mesmo na cela.
(Com barras de minhas escolhas).

Rezei, mas não fui atendido.
Largado, batido, vendido.
Sozinho, sempre tão sozinho.
E, então, não sozinho, tão forte.
Mas, longe de onde gostaria.
(Gostaria por mim e por todos).

A estrada seguiu, infinita.
Nos levou para as terras malditas.
Malditos, nós, mesmo que benditos.
Pois, entre ditos e ditos, não merecemos menção.
Senão a menção pesarosa,
Daqueles que tentaram em vão.

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Dois para ela:

Um beijo doce da donzela dos ventos.
Um beijo da princesa de tantos encantos.
Guardado para aquele amigo:
Companheiro, mestre e discípulo,
E o que mais ele pedisse e quisesse.

Um beijo perdido em prantos
Choro alheio aos olhos de tantos,
Por próximos que fossem, distantes
Do que passa na alma da moça.
(Mulher, ainda moça, tão jovem)

Os dias, que passam tão lentos,
Carregam consigo a tristeza
(Um beijo, apenas um beijo)
Dos lábios a ele entregues.
Entregues, mas nunca aceitos.

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DE UM REI:

Para o povo um servo fiel.
Meu pai orgulhoso estaria
Por me ver governar sua Eudia
Da maneira que ele o quisera

Do novo algo a aprender.
Paciência, virtude de um rei
Com o tempo, mistério desfez
Descobri que, às vezes, esse rei
Deve pensar além de si mesmo

E se o todo novo não fosse eu
Saberia escolher facilmente
Pois, esta escolha não é tão somente
Entre o povo e o meu interesse
Mas, de algum interesse maior
Tão maior que meu povo e eu mesmo

E, então, neste jogo sagrado entrei
Companheiros vieram de outras terras
Com histórias que as minhas mais ermas
E, ainda, com corações que em todas as eras
Tão raramente se pode ver aflorar.
E eu, rei, me vi, não mais que de repente,
Admirado servo a os acompanhar.

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LIBERTADOR:

Por que eu? Acaso não nasci inocente?
Ainda nem me entendia por gente
E eu já me erguia com o nascer do sol

Do suor não vivia, mas sobrevivia,
Cansava, penava, doía, sofria,
E vi tantos amigos voltarem ao pó

Tristezas demais que a noite escondia
Um homem quebrado. Esperança morria
Até que um dia, do escuro, farol.

Luz da liberdade, logo à minha frente
Agora, de escravo, me erguia regente
E não descansava: do povo em prol

Uma nova esperança, futuro surgia,
E o vento trazia aquele novo lar.
Tão longe de casa, onde o coração,
Finalmente encontrou algum tipo de paz.
(Graças a Deus, sempre)

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Pulso:

O vento o viu passar, veloz,
E ouviu de longe o coração do jovem,
Pulsar, como águas turbulentas, agitado
Como maremotos infinitos (“Que espírito!”)

As árvores o viram passar entre elas
Mais alto e imponente que toda a floresta
Seguia indomável, invencível, temido
Temido por tão destemido (“Façam caminho!”)

A montanha o tentou impedir de subir
Erguendo-se alta, alta, até nuvens distantes,
Mas, o jovem não desistia ou cansava (ou pensava)
Só subia, e subia, e venceu a gigante (“Eu me curvo!”)

O rio, orgulhoso, dizia a si mesmo
Que suas margens seriam o fim da jornada
Do jovem resistente a desânimo e medo
Que sempre impediam muitos de seguir.

Mas, não foram o final da jornada as margens
Margens distantes, mas margens (possíveis)
Nas quais o jovem provou sua estirpe
Quando a nado seguiu de uma à irmã
(“Eu me faço humilde...”)

Mas, nenhum disse tanto quanto ele mesmo,
Quando disse a seu reflexo nas águas do rio:
“Mais um dia sem arrependimentos, mas, ainda
só um dia, e tenho muitos pela frente”
(e ele seguiu, e muito ainda foi dito)


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Distante

Costumava ser sozinho (e triste)
Perseguido por ser eu (horrível)
Abandonado em nascimento, (lembro)
E se à sorte que é minha: extinto

Cresci sob o medo do chicote,
Que estalava tendo ou não motivo crível,
Na minha pele ainda fina de criança.
Que na infância nada teve de carinho

Agora, à noite, no meu leito, ainda sinto
E, antes do chicote fosse a dor...
Mas, das feridas que o tempo
Por poderoso que se mostre sobre tudo
Não envelhece e não mata, nunca mata
Mas, ainda, ele me mata
Pois ele passa e passa
E nada nunca passa
Mas, dói...

(...)

E, um dia, que só veio com o tempo
Veio o vento, e me trouxe boas novas
Por velas claras, anunciadas à distância
Minha família, a que muito me faltava

Tudo mudou, e eu mudei, e eu sou grato
Ainda que fraco, acompanhando meus irmãos
Tentando sempre fazer jus a seu abraço
A cada dia de esforços, nunca em vão

Costumava ser sozinho (e triste)
Perseguido por ser eu (horrível)
Agora em casa se estou junto a eles
E, por eles, digo agora: eu vivo

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Guardiã :

Bela donzela de olhos esmeralda
Visão como sol em dias frios
E, ainda, a ela sempre a injustiça
De não falar do que dela de mais belo
Não ficou pra sempre e sempre escrito
(E tenho saudades de quem ela era)

Seu olho de águia vê mais do que todos
Seu olho de águia vê longe e mais longe
Mais longe, e ainda mais longe (tão distante...)
E, acredita que pode alcançar, porque pode se ver também ali,
Como gostaria de ser, e como gostaria que tudo fosse
(Eu gostaria de ter visto o mesmo)

Mas, o tempo passa e os sonhos mudam.
Nunca os dela: força da natureza
Ela, sempre ela, seguiu e segue
Viajando, sempre peregrina.
Porque ela apenas é, e será sempre,
Como a mais suave brisa: livre.

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A única chance da paz...

Esta guerra nunca foi minha
Mas, sempre a entendi de todo coração
Percebia que a paz se não nos for dada
Será conquistada. E que vença o melhor.

A melhor serei eu, a melhor serei eu
Amazona da paz, corajosa, feroz
E, pra sempre, pra sempre, abraçada (carente)
O orgulho da mãe, nunca mais combatente

Que tudo se converta no que esperamos
Espadas em arados, e guerras em vida tranqüila
Fortalezas em cidades, soldados em pais de família
E, ao final, foi para isso que lutamos

Então, salvem aqueles que lutam e resistem
Salvem as armas e as mãos que as empunham
Porque a única chance da paz,
É que lutem por ela...(Embora...)

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Pira :

Dias, e dias e dias e dias
Andando sob o sol de desastre
Cansado, mas, ainda, energizado.
Enervado, por fúrias impulsionado,
Do garoto um mero sussurro já fraco.

Noites, e noites e noites e noites
Imerso em sonhos de mortos e chamas,
Calor, mal-estar, e insônia, e choro (Fraco...)
Homem pequeno (Guerreiro, guer-rei-ro!!!)
E sinto energias fluírem, de veias ao corpo
De rios de lava por sob esta terra os gritos

Gritos, e gritos e gritos e gritos
E o meu, perdido entre tantos, eu ouço
Pedidos, suplícios. Ignoro os aflitos, e tomo,
Em mãos a lança partida, perdida, mas viva
Ativa. Sedenta, encerra em si o início (a sina)
Artefato de sangue, destino (Vin-gan-ça!!!)
Esperança de um dia salvar estar terra (Tolo!)

Do fundo, no fundo, pro fundo, afundo
E, perdido em mim mesmo, desisto em todo
De achar minha paz, sob a terra ela jaz
O meu sonho desfaz, e só resta o ódio (...)
O sol, a morte, a sede e a fome
Amigos a menos, e, sim, pesadelos,
Que não vão embora com o nascer do sol
E no dia seguinte eu acordo, e nada mudou...

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Causa/Consequência:

Viva as bandeiras de Palas-Lamar
Salve a ideologia de honra e orgulho
E o sonho: a promessa de um belo futuro
Amor, carinho e todos os lares seguros
De mar a mar, por todo o império seria assim
Bela Lamar, casa de meu pai (e seus sonhos)

Ah, Lamar dos sonhos de meu pai
Antes fosse dos meus e eu visse em ti
O mesmo calor e beleza que outros vêem
Mas, o frio nubla esta minha vista, e
Como há quem desista do sonho, assim eu
Também o faço, e me desfaço dessas ilusões

De meu reino vejo apenas a tragédia,
Rodeado por política e falsos amigos,
Sozinho entre muitos, ocupado por ordens
E por lembranças dos amigos que perdi
Para esta guerra, que não comecei, mas que esperam que
A torne paz, com a vitória... (Eu deveria estar sozinho assim?)

Eu deveria estar sozinho assim?
Deveria ser como espera o meu pai?Deveria...(Como deveriam ser as coisas?)
Apenas quero ter direito a uma escolha (uma)
Queria ela (embora ainda apenas um conceito)
Queria a bela que ocupasse os pensamentos meus

A ela para sempre o meu carinho, mas, por hora,
Que eu seja, então, o fio dessa espada. Seja eu um instrumento de batalha
Sejam as ordens o meu credo e a segurança do império obrigação
E, seja essa fronteira a minha fronteira, e aos invasores deixo o aviso:
“Cuidado, cuidado, pois eu não terei clemência.”
(Ai de mim...Há que haver boa-fé nos povos)

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Lamento:

Dancem as espadas e bebam o sangue de meus inimigos
Dancem os escudos e que eles sejam guardas de minha causa
Eu me ergo em desafio, não me dobro nem ao frio, nada temo

Cantem minhas proezas, e sejam elas lendárias e dignas de ouvir
Cantem celebrando: esta guerra está ganha, viva o fim
Eu me ergo em desafio, e mostro a todos o valor dos paladinos

E para cada mão que fere, para cada cria dessas trevas:
Encontrem-me no caminho. Pois, eu sou o escudo, eu sou o caminho de pedras que terão que atravessar e só passarão se meu sangue estiver frio. Eu sou a torre de sentinela, a longa muralha. Indestrutível! Eu sou...

Como meu pai queria...

Os que temem e se desesperam, aguardam a minha chegada
Mas, não quero lutar (ao menos, não de novo, não de novo)
Quero a paz que prometo aos demais, quero essa paz
Queria ver o sol, e correr e brincar e rir (Mas, não sou mais criança)

Não há mais paz, nem pais, nem pai, só comandante
E voz de comando me assombra a todas as horas
(Força! Coragem! Lute!)
Onde está o sol de que tanto escutei falar?

TUM! Soem os tambores! A guerra se aproxima!
TUM! Dancem as espadas (Elas só sabem matar)
TUM! Dancem! TUM-TUM! Cantem! TUM! Lutem! TUM-TUM! Durmam!
TUMMM! Mas, se lembrem, que na manhã seguinte vocês não verão o sol...
(E como eu poderia esquecer?)

“Seja forte, meu filho. Estas terras não têm pena de ninguém”
Nem pena de mim, meu pai? Apenas um homem...
Tenho os mesmos medos dos demais, as mesmas dúvidas. As mesmas incapacidades, o mesmo cansaço, a mesma desmotivação, a mesma fome, o mesmo frio, a mesma insônia, pelos mesmos pesadelos. A mesma vontade de fugir para sempre da escuridão destas terras!
Mas, não vou. Muitos precisam de mim, como eu preciso de todos eles. E, no final das contas: Não teria me feito diferente, pai.

Aos que temem e se desesperam: “Aguardem a minha chegada. Não deixarei vocês sozinhos.”

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“Piedade”:

Mãe, mãe, onde está? Não a vejo...
A perdi quando estava ainda no berço.
Tenho dela somente o desejo e último beijo,
Que ganhei e, ainda que pequeno, com carinho eu lembro,
Mas saudade, não nego, eu tenho, e um dia a verei novamente...

Meu irmão, minha força e apoio
Neste dias escuros, com ele eu conto
E conto a ele de tudo, como contaria à mãe
Até o dia de sombras (todos os dias em sombras)
Quando veneno guiou mão em ódio e matou o que foi minha luz

Sangre, morra! Eu sou o seu salvador e acusador!
Sou o juiz e executor! Sou seu nêmesis!
E, daqui em diante, de todos...

“Deixe ser eu o sol”

Derramando sangue por sangue
Mesmo que viva pra sempre em andança
Sempre caçado, sempre caçando, cubro a distância,
Pois, que distância poderia me separar de minha casa?
Mesmo sem vê-la, sei que está lá, a me esperar, com flores e um lago.
Um jardim, um quintal, onde brinco com os meus filhos, e depois os deito
Em camas seguras, onde eles dormem o sono tranqüilo das crianças pequenas
Pois passaram o dia todo correndo e rindo, e, em tudo, no dia, aproveitando a infância.

Esta estrada de tijolos vermelhos,
A sinto em meus pés, que já não podem mais.
Mas, não podem parar, pois não tenho opção.
“Que pesada esta carga que temos que carregar...”
Porque não vejo minha casa à frente?

“Lembro de tê-la visto dançando e sorrindo”
E, naquele sorriso, eu vi o futuro que tínhamos, juntos
Sorriso tão lindo que queria guardá-lo para sempre no tempo
Mas, de noites em noites, a vejo chorando, e não sei como trazer seu sorriso de volta.
“Queria dar a ela apenas um amanhecer, e um céu de paz”

“Você sabe que estas terras não guardam esses bons dias”
E, ainda, elas me dão liberdade para sonhar, pois
A noite, ainda em dias de medo e pouca esperança
Ainda é a casa dos sonhadores, e, sonhadores que são, eles acreditam no futuro
E, eu também acredito, por ondas e ondas que me atinjam, nessas marés de tristeza

Queria saber como é o sol de que tanto ouvi falar.
“Vocês pouco sabem que não existe nenhum sol no futuro”
Queria poder viver bem, e estar mais com ela
Capitão! Precisamos de ajuda!
“Eu sou o eclipse, e anunciei esta escuridão”
Queria ter tido outras chances, queria tentar de novo...

2 comentários:

Anônimo disse...

Menino, mas que coisas mais linda, não? Parabéns! Tentarei visitá-lo sempre!
bjs

Anônimo disse...

Oie!! pedido atendido!!
Confesso q nao li tudo, mas volto pra ver! hehehe

Bjao!!