quinta-feira, novembro 08, 2007

Já que a Iza pediu: Psicose (3/3)

Chegara, mas não conseguia reunir a força para atravessar aquela porta aberta. Sentia uma vertigem, como se fosse cair casa adentro, e sua visão perdia o foco. Verificou seu celular: uma mensagem. Estava, então, frente à porta de sua antiga casa, naquele dia. A mensagem lia: “Jonas, pelo amor de Deus, não entre em sua casa, por favor. – ass. Bruno”. Mensagem de seu parceiro, que o apavorara mais do que qualquer coisa pela qual já tinha passado. Sentira seu sangue gelar, e mal conseguira caminhar para dentro de sua própria casa, cuja porta estava aberta exatamente daquela maneira do dia presente, ele se lembrava bem. Seus passos foram hesitantes, sua respiração pesada e ofegante. Entrou.

Estava dentro de sua nova casa, mais uma vez no presente. Sua memória o confundia. Ao menos, graças a seu treinamento e seus conhecimentos de psicologia, ele entendia que era apenas um reflexo do trauma pelo qual passara tempos atrás. Percorria , receoso toda a sua casa, onde morava sozinho. O que o maldito estaria tramando? Não o encontrava, mas ele tinha que estar ali, ou teria deixado uma armadilha, ou alguma de suas surpresas. Surpresas, o maldito tinha surpresas horríveis.

Via-se novamente no passado, em sua sala. No centro, um bilhete sujo de sangue, algo visivelmente proposital. Lia: “Saiba que vou fazer coisas horríveis com o corpo de sua esposa, detetive. Apenas um agradecimento pelo seu maravilhoso trabalho. Uma surpresa aguarda em seu quarto.”. E Jonas começou a tremer, apavorado. Seu nariz escorria. Percebeu que chorava. Tremia muito quando puxou sua arma e seguiu escada acima, cambaleando, naquela casa vazia. Onde estava o bilhete? Em sua mão, amassado entre os dedos e a pistola. Estava, então, mais uma vez nos dias atuais, no segundo andar de sua casa, frente a frente com o homem que assombrou suas noites insones dos últimos anos.

Segurava uma faca, e entre ela e seus dedos: o bilhete.

- Vejo que ainda guarda o bilhete.

Não respondeu, não conseguiu. Apenas gritou, e avançou, louco, contra a silhueta do assassino. Era um assassino ele mesmo, naquele momento. Tiros, tiros, mas eles o erraram. Iniciaram um combate corpo-a-corpo. Violência. Uma briga de faca no escuro. Socos, pontapés, mordidas, dedos que pressionavam os olhos, atacavam como podiam. Uma briga até a morte, a última briga para algum dos dois, talvez ambos. Caíram escada abaixo, perdendo muitos degraus no caminho, e acertando o chão em velocidade. Mas, não pararam! Gritos, rosnados de Jonas, que ouviu as sirenes quando já dominava a situação.

- Levante, seu animal! – gritou, urrou, contra o homem alquebrado e sangrando, enquanto o arrancava do chão com a faca ao seu pescoço

O arrastou como refém para o lado de fora, onde as luzes oscilavam em vermelho e azul, e reconhecia alguns rostos de colegas de profissão. Gritavam:

- “Largue a faca!”, “É o Jonas”, “O que ele está fazendo?”, “Parado!”

Entre os rostos que reconhecia, viu o de seu parceiro, e amigo, amigo de sua esposa, também. Alguém que chorou tanto quanto ele naquele enterro de um Julho chuvoso.

- Bruno, desculpe, eu não vou conseguir prender esse canalha.

- De quem você está falando, amigo?

- Deste animal! – estapeou o assassino, com toda sua força – Foi ele quem matou Carla, foi ele quem destruiu a minha vida. Eu estive este tempo todo sendo um detetive, sabendo que o caso não estava fechado!

- Jonas, você não é mais um detetive! Você deixou de ser um há mais de um ano. – então, este seu ex-parceiro (e amigo) observou os demais policiais, prestes a encerrar a tensão, e gritou – Abaixem as armas, por favor, ele não representa ameaça.

Virou-se, novamente para seu amigo, e lhe disse, com o carinho e respeito que lhe tinha de quando ele mesmo era apenas um novato na força, e foi designado parceiro do veterano Jonas, renomado detetive:

- Jonas, não há ninguém aí. Solte a faca, por favor...

O homem segurava uma faca, com a qual matara as pessoas da casa onde esteve. Seu corpo espirrado com o sangue que encobria suas mãos.

O detetive Bruno caminhou, com suas palmas estendidas, seus braços abertos, em direção ao seu amigo e tutor, agora enlouquecido. Chegou próximo a ele, o abraçando e desarmando, o pobre homem confuso:

- Agora a Carla vai ficar bem, certo?

- Sim, sim, agora ela vai descansar em paz. – disse o homem, não contendo seu choro, e então sinalizando para que os demais avançassem

Com respeito, os demais policiais tomaram Jonas para ser julgado por seus crimes, e o colocaram em uma das viaturas. “Pobre homem”, eles pensavam, “Isto poderia ocorrer com qualquer um de nós”. Pobre Jonas, que com a culpa por sua esposa como matéria-prima, criou um personagem que ele poderia perseguir, mas que jamais poderia capturar. Seu parceiro perdera dois amigos naquele dia, e perdera sua fé em seu trabalho: jamais se casaria, jamais teria uma vida que valesse à pena. Começou a chover, como no dia em que enterraram Carla... “Adeus”, pensou Bruno, como pensara então.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esperei muito tempo pelo final de "Psicose" e mais tempo ainda porque fiquei sem entrar em seu blog nesse começo de Novembro.

Mas preciso dizer algo: A-DO-RE-I a história. Eu sei que já te falei isso, mas deixo registrado novamente aqui: gosto muito da sua forma de escrever. Gosto da sua capacidade de detalhar a história e, assim, deixá-la mais atraente, mais intrigante.

Isto é um belo talento teu!

Agora, um comentário mais pessoal sobre "Psicose". Eu achei muito interessante. Com certeza, é um texto que desperta curiosidade e faz com que o leitor queira mais. Eu não esperava por este fim, mas achei muito legal...

Me lembrou até um filme de suspense que vi uma vez. Se não me engano era "Operário" ou algo assim o nome do filme.

Muito interessante mesmo.

Espero poder ler mais histórias tuas! Gosto muito ;)

Beijos