- Mas, tu, dama, és apaixonada por um vilão, um varão de pouco e mal caráter. Eu sou apenas a sombra de algo que gostarias de querer.
-Isto é tão pouco verdade, o que me dizes, que se pudesse lhe querer mais, se isso sequer fosse possível, eu sequer o tentaria, ou meu coração parava pelo esforço.
- Conseguirias me querer, ao menos um pouco, se eu lhe pedisse? Apenas o suficiente para me demonstrar mais com ações que com tuas palavras. Conseguirias?
- Se minhas ações lhe faltam que lhes diga o quanto me és, meu senhor, eu lhe rogo desculpas, pois acho que não tive a força para expressar tanto.
- Os amantes em seus amores encontram novas forças, novas coragens, novas inspirações. E eu careço de lhe transformar em mulher apaixonada. Então de que meu amor a ti me serve, senão para me causar dor e me vendar àquelas que realmente me brindam com carinhos.
- A lua ouviu tantas de minhas confissões...
- E junto a suas filhas, as estrelas, ouviu tantos de meus uivos. Como um cachorro, arrastando-me entre os jardins de minha província, tido como louco. E nenhuma de tuas confissões de amor me chegou como conforto. Talvez a lua jamais as tenha ouvido. Nenhuma palavra, nenhum toque ou mesmo lágrima que lavasse a minha alma da solidão de amar sozinho.
- Não sei como dizer a ti as verdades.
- Então, parte, que tuas mentiras tal quais lobos de um inferno gelado, mordem, mastigam, arrancam-me pedaços da alma que jamais haverei de volta. Parte e me deixe com minha memórias de quando eu te tinha como minha, e isto me parecia verdade.
- Pedes que eu lhe deixe, quando sabes que isto me mataria, ou que eu mesma tiraria minha própria vida que não mais me teria propósito?
- Não peço que partas, nem conseguiria pedi-lo, pois minha língua se recusaria a obedecer-me. Peço que parta por tua própria vontade, e que faça por mim algo para o qual jamais terei força. Faça isto por minha consideração.
- Por consideração partiria, mas por amores quero ficar a teu lado, por amores eu não conseguiria afastar-me.
- Amores? Que amores me destina? Percebeste que sequer chegou a negar teus amores pelo calhorda?
- Não o amo, e o tenho senão entre asco e repulsa, embora não o deseje mal.
- Injustiça fazes comigo em não partir, injustiça fazes comigo em me tratar à semelhança da criatura.
- Em que aspecto seria o asco parecido ao amor?
- Na consideração que o destina em não lhe desrespeitar, em não lhe querer o mal, isto após tanto que lhe fez, quando bastariam algumas palavras ríspidas de minha parte para que me desrespeitasse e por mim perdesse o carinho.
- Não o é verdade, nem jamais aconteceria.
- Percebe como intervéns?
- Não percebo nada.
- De fato, nem mesmo as dores que carrego, pois te ocupas demais na concentração a ele, nas tuas mágoas, nas tuas saudades.
- Não são saudades, mas feridas abertas.
- Trato de cuidá-las, então? Para que assim possas te recuperar e retornar a quem as fez?
- Jamais retornaria. Preferia não lhe ter a tê-lo mais uma vez.
- Então teu ódio dele é maior que teu amor por mim? Tua mágoa por não estarem juntos é tão mais valiosa do que eu, por esforços que eu lhe dedique? É tão mais fácil amar o monstro que o herói, assim? É porque o monstro não tem quem o ame? Existe motivo para tal. É porque o mostro não merece o amor que recebe, o que torna esse amor importante, mais que comum? Meus punhos se cerram de considerar estas coisas.
- Então as esqueça, pois não são reais.
- O que é real, senão o que sentimos, o que podemos ver? Um sonho é tão menos real que a vida? Se eu posso falar, tocar, provar os sonhos, lembrá-los com carinho ou desgosto, experimentar coisas novas, isto também não é real? E os sonhos existem apenas para mim, como meus pensamentos, que para mim me são igualmente reais. E este é um pesadelo que tenho acordado, e que torna meu único conforto os sonhos, onde finjo ter você só para mim.
-Isto é tão pouco verdade, o que me dizes, que se pudesse lhe querer mais, se isso sequer fosse possível, eu sequer o tentaria, ou meu coração parava pelo esforço.
- Conseguirias me querer, ao menos um pouco, se eu lhe pedisse? Apenas o suficiente para me demonstrar mais com ações que com tuas palavras. Conseguirias?
- Se minhas ações lhe faltam que lhes diga o quanto me és, meu senhor, eu lhe rogo desculpas, pois acho que não tive a força para expressar tanto.
- Os amantes em seus amores encontram novas forças, novas coragens, novas inspirações. E eu careço de lhe transformar em mulher apaixonada. Então de que meu amor a ti me serve, senão para me causar dor e me vendar àquelas que realmente me brindam com carinhos.
- A lua ouviu tantas de minhas confissões...
- E junto a suas filhas, as estrelas, ouviu tantos de meus uivos. Como um cachorro, arrastando-me entre os jardins de minha província, tido como louco. E nenhuma de tuas confissões de amor me chegou como conforto. Talvez a lua jamais as tenha ouvido. Nenhuma palavra, nenhum toque ou mesmo lágrima que lavasse a minha alma da solidão de amar sozinho.
- Não sei como dizer a ti as verdades.
- Então, parte, que tuas mentiras tal quais lobos de um inferno gelado, mordem, mastigam, arrancam-me pedaços da alma que jamais haverei de volta. Parte e me deixe com minha memórias de quando eu te tinha como minha, e isto me parecia verdade.
- Pedes que eu lhe deixe, quando sabes que isto me mataria, ou que eu mesma tiraria minha própria vida que não mais me teria propósito?
- Não peço que partas, nem conseguiria pedi-lo, pois minha língua se recusaria a obedecer-me. Peço que parta por tua própria vontade, e que faça por mim algo para o qual jamais terei força. Faça isto por minha consideração.
- Por consideração partiria, mas por amores quero ficar a teu lado, por amores eu não conseguiria afastar-me.
- Amores? Que amores me destina? Percebeste que sequer chegou a negar teus amores pelo calhorda?
- Não o amo, e o tenho senão entre asco e repulsa, embora não o deseje mal.
- Injustiça fazes comigo em não partir, injustiça fazes comigo em me tratar à semelhança da criatura.
- Em que aspecto seria o asco parecido ao amor?
- Na consideração que o destina em não lhe desrespeitar, em não lhe querer o mal, isto após tanto que lhe fez, quando bastariam algumas palavras ríspidas de minha parte para que me desrespeitasse e por mim perdesse o carinho.
- Não o é verdade, nem jamais aconteceria.
- Percebe como intervéns?
- Não percebo nada.
- De fato, nem mesmo as dores que carrego, pois te ocupas demais na concentração a ele, nas tuas mágoas, nas tuas saudades.
- Não são saudades, mas feridas abertas.
- Trato de cuidá-las, então? Para que assim possas te recuperar e retornar a quem as fez?
- Jamais retornaria. Preferia não lhe ter a tê-lo mais uma vez.
- Então teu ódio dele é maior que teu amor por mim? Tua mágoa por não estarem juntos é tão mais valiosa do que eu, por esforços que eu lhe dedique? É tão mais fácil amar o monstro que o herói, assim? É porque o monstro não tem quem o ame? Existe motivo para tal. É porque o mostro não merece o amor que recebe, o que torna esse amor importante, mais que comum? Meus punhos se cerram de considerar estas coisas.
- Então as esqueça, pois não são reais.
- O que é real, senão o que sentimos, o que podemos ver? Um sonho é tão menos real que a vida? Se eu posso falar, tocar, provar os sonhos, lembrá-los com carinho ou desgosto, experimentar coisas novas, isto também não é real? E os sonhos existem apenas para mim, como meus pensamentos, que para mim me são igualmente reais. E este é um pesadelo que tenho acordado, e que torna meu único conforto os sonhos, onde finjo ter você só para mim.
Um comentário:
Fábio,
Você não imagina a minha curiosidade para ler a terceira parte de "Psicose". Estou ansiosa para ver o que acontecerá, além disso só comentarei a história depois de tê-la lida inteira.
Bom, quanto este teu post, não tenho muito o que falar. É um belo diálogo, repleto de verdades que não são fáceis de serem lidas/ouvidas.
Gostei muito... Achei forte, repleto de sentimentos e isso é sempre muito bom - uma bela qualidade tua!!!
Beijos :)
PS= Espero o 3/3 de "Psicose"
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