segunda-feira, novembro 12, 2007

Balão

Vou dar a volta ao mundo em um balão, pra seguir bem lentamente e ver de tudo um pouco, apenas para voltar ao mesmo lugar de onde eu saí, mas diferente de quando eu saí.

‘O sole, ‘o sole mio sta 'nfronte a te!

Que bela coisa, d’olhos quase verdes,

Alegria desenhada em meus cenários:

Jardins de flores, quais você perfuma,

Resvalando seus cabelos pelas pétalas.

Passeando, graciosa, sobre estes palcos

Onde, personagem, este tolo encantado

Observa, esquecendo sua próxima fala.

Que bela coisa, d’olhos quase verdes...


Ah... Bela coisa, desses olhos quase verdes,

E se te dissesse que queria acompanhá-la?

E se te dissesse que nem quero dizer nada

Que não seja belo, ou que não iria diverti-la?

E se dissesse que já não quero mais perdê-la,

Mesmo a tendo visto apenas há tão pouco, e

Nada sabendo, senão o que não se expressa,

Por incontáveis palavras às quais me recorra?

Ah... Bela coisa, desses olhos quase verdes...


Olhos quase verdes, tão adoráveis, hipnóticos,

E que, de você, são menos belos que a metade

De tudo que vi com estes meus olhos comuns,

Que não conseguem mais sair de você, assim:

Tão tudo que eu imaginava e queria pra mim.

Seus olhos me mostraram nosso acaso planejado.

Bela coisa, de alma esmeralda, apenas minha.

Bela coisa que a vida trouxe às minhas mãos,

Bela coisa, bela bela, minha calma,

A minha alma aguardava por você.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Sintomático (p.s. - Problemas resolvidos)


Contando possibilidades ilimitadas. Compreendendo meu poder sobre o presente e futuro.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Status Check

Queridos, não é bem que eu não estou escrevendo, é mais que o BLOG não está mais aceitando Uploads de imagens, não sei o porquê. Como um BLOG apenas texto ficaria um pouco pesado, e eu igualmente adoro brincar com as imagens, também, buscarei um novo endereço pra mim, ok? Até lá, escreverei mais espaçadamente (Disse o rapaz que acabou de voltar à ativa depois de uma ausência de três meses. Irônico, até). Beijos, ou abraços, ou tackles.

Já que a Iza pediu: Psicose (3/3)

Chegara, mas não conseguia reunir a força para atravessar aquela porta aberta. Sentia uma vertigem, como se fosse cair casa adentro, e sua visão perdia o foco. Verificou seu celular: uma mensagem. Estava, então, frente à porta de sua antiga casa, naquele dia. A mensagem lia: “Jonas, pelo amor de Deus, não entre em sua casa, por favor. – ass. Bruno”. Mensagem de seu parceiro, que o apavorara mais do que qualquer coisa pela qual já tinha passado. Sentira seu sangue gelar, e mal conseguira caminhar para dentro de sua própria casa, cuja porta estava aberta exatamente daquela maneira do dia presente, ele se lembrava bem. Seus passos foram hesitantes, sua respiração pesada e ofegante. Entrou.

Estava dentro de sua nova casa, mais uma vez no presente. Sua memória o confundia. Ao menos, graças a seu treinamento e seus conhecimentos de psicologia, ele entendia que era apenas um reflexo do trauma pelo qual passara tempos atrás. Percorria , receoso toda a sua casa, onde morava sozinho. O que o maldito estaria tramando? Não o encontrava, mas ele tinha que estar ali, ou teria deixado uma armadilha, ou alguma de suas surpresas. Surpresas, o maldito tinha surpresas horríveis.

Via-se novamente no passado, em sua sala. No centro, um bilhete sujo de sangue, algo visivelmente proposital. Lia: “Saiba que vou fazer coisas horríveis com o corpo de sua esposa, detetive. Apenas um agradecimento pelo seu maravilhoso trabalho. Uma surpresa aguarda em seu quarto.”. E Jonas começou a tremer, apavorado. Seu nariz escorria. Percebeu que chorava. Tremia muito quando puxou sua arma e seguiu escada acima, cambaleando, naquela casa vazia. Onde estava o bilhete? Em sua mão, amassado entre os dedos e a pistola. Estava, então, mais uma vez nos dias atuais, no segundo andar de sua casa, frente a frente com o homem que assombrou suas noites insones dos últimos anos.

Segurava uma faca, e entre ela e seus dedos: o bilhete.

- Vejo que ainda guarda o bilhete.

Não respondeu, não conseguiu. Apenas gritou, e avançou, louco, contra a silhueta do assassino. Era um assassino ele mesmo, naquele momento. Tiros, tiros, mas eles o erraram. Iniciaram um combate corpo-a-corpo. Violência. Uma briga de faca no escuro. Socos, pontapés, mordidas, dedos que pressionavam os olhos, atacavam como podiam. Uma briga até a morte, a última briga para algum dos dois, talvez ambos. Caíram escada abaixo, perdendo muitos degraus no caminho, e acertando o chão em velocidade. Mas, não pararam! Gritos, rosnados de Jonas, que ouviu as sirenes quando já dominava a situação.

- Levante, seu animal! – gritou, urrou, contra o homem alquebrado e sangrando, enquanto o arrancava do chão com a faca ao seu pescoço

O arrastou como refém para o lado de fora, onde as luzes oscilavam em vermelho e azul, e reconhecia alguns rostos de colegas de profissão. Gritavam:

- “Largue a faca!”, “É o Jonas”, “O que ele está fazendo?”, “Parado!”

Entre os rostos que reconhecia, viu o de seu parceiro, e amigo, amigo de sua esposa, também. Alguém que chorou tanto quanto ele naquele enterro de um Julho chuvoso.

- Bruno, desculpe, eu não vou conseguir prender esse canalha.

- De quem você está falando, amigo?

- Deste animal! – estapeou o assassino, com toda sua força – Foi ele quem matou Carla, foi ele quem destruiu a minha vida. Eu estive este tempo todo sendo um detetive, sabendo que o caso não estava fechado!

- Jonas, você não é mais um detetive! Você deixou de ser um há mais de um ano. – então, este seu ex-parceiro (e amigo) observou os demais policiais, prestes a encerrar a tensão, e gritou – Abaixem as armas, por favor, ele não representa ameaça.

Virou-se, novamente para seu amigo, e lhe disse, com o carinho e respeito que lhe tinha de quando ele mesmo era apenas um novato na força, e foi designado parceiro do veterano Jonas, renomado detetive:

- Jonas, não há ninguém aí. Solte a faca, por favor...

O homem segurava uma faca, com a qual matara as pessoas da casa onde esteve. Seu corpo espirrado com o sangue que encobria suas mãos.

O detetive Bruno caminhou, com suas palmas estendidas, seus braços abertos, em direção ao seu amigo e tutor, agora enlouquecido. Chegou próximo a ele, o abraçando e desarmando, o pobre homem confuso:

- Agora a Carla vai ficar bem, certo?

- Sim, sim, agora ela vai descansar em paz. – disse o homem, não contendo seu choro, e então sinalizando para que os demais avançassem

Com respeito, os demais policiais tomaram Jonas para ser julgado por seus crimes, e o colocaram em uma das viaturas. “Pobre homem”, eles pensavam, “Isto poderia ocorrer com qualquer um de nós”. Pobre Jonas, que com a culpa por sua esposa como matéria-prima, criou um personagem que ele poderia perseguir, mas que jamais poderia capturar. Seu parceiro perdera dois amigos naquele dia, e perdera sua fé em seu trabalho: jamais se casaria, jamais teria uma vida que valesse à pena. Começou a chover, como no dia em que enterraram Carla... “Adeus”, pensou Bruno, como pensara então.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Destratações

- Mas, tu, dama, és apaixonada por um vilão, um varão de pouco e mal caráter. Eu sou apenas a sombra de algo que gostarias de querer.

-Isto é tão pouco verdade, o que me dizes, que se pudesse lhe querer mais, se isso sequer fosse possível, eu sequer o tentaria, ou meu coração parava pelo esforço.

- Conseguirias me querer, ao menos um pouco, se eu lhe pedisse? Apenas o suficiente para me demonstrar mais com ações que com tuas palavras. Conseguirias?

- Se minhas ações lhe faltam que lhes diga o quanto me és, meu senhor, eu lhe rogo desculpas, pois acho que não tive a força para expressar tanto.

- Os amantes em seus amores encontram novas forças, novas coragens, novas inspirações. E eu careço de lhe transformar em mulher apaixonada. Então de que meu amor a ti me serve, senão para me causar dor e me vendar àquelas que realmente me brindam com carinhos.

- A lua ouviu tantas de minhas confissões...

- E junto a suas filhas, as estrelas, ouviu tantos de meus uivos. Como um cachorro, arrastando-me entre os jardins de minha província, tido como louco. E nenhuma de tuas confissões de amor me chegou como conforto. Talvez a lua jamais as tenha ouvido. Nenhuma palavra, nenhum toque ou mesmo lágrima que lavasse a minha alma da solidão de amar sozinho.

- Não sei como dizer a ti as verdades.

- Então, parte, que tuas mentiras tal quais lobos de um inferno gelado, mordem, mastigam, arrancam-me pedaços da alma que jamais haverei de volta. Parte e me deixe com minha memórias de quando eu te tinha como minha, e isto me parecia verdade.

- Pedes que eu lhe deixe, quando sabes que isto me mataria, ou que eu mesma tiraria minha própria vida que não mais me teria propósito?

- Não peço que partas, nem conseguiria pedi-lo, pois minha língua se recusaria a obedecer-me. Peço que parta por tua própria vontade, e que faça por mim algo para o qual jamais terei força. Faça isto por minha consideração.

- Por consideração partiria, mas por amores quero ficar a teu lado, por amores eu não conseguiria afastar-me.

- Amores? Que amores me destina? Percebeste que sequer chegou a negar teus amores pelo calhorda?

- Não o amo, e o tenho senão entre asco e repulsa, embora não o deseje mal.

- Injustiça fazes comigo em não partir, injustiça fazes comigo em me tratar à semelhança da criatura.

- Em que aspecto seria o asco parecido ao amor?

- Na consideração que o destina em não lhe desrespeitar, em não lhe querer o mal, isto após tanto que lhe fez, quando bastariam algumas palavras ríspidas de minha parte para que me desrespeitasse e por mim perdesse o carinho.

- Não o é verdade, nem jamais aconteceria.

- Percebe como intervéns?

- Não percebo nada.

- De fato, nem mesmo as dores que carrego, pois te ocupas demais na concentração a ele, nas tuas mágoas, nas tuas saudades.

- Não são saudades, mas feridas abertas.

- Trato de cuidá-las, então? Para que assim possas te recuperar e retornar a quem as fez?

- Jamais retornaria. Preferia não lhe ter a tê-lo mais uma vez.

- Então teu ódio dele é maior que teu amor por mim? Tua mágoa por não estarem juntos é tão mais valiosa do que eu, por esforços que eu lhe dedique? É tão mais fácil amar o monstro que o herói, assim? É porque o monstro não tem quem o ame? Existe motivo para tal. É porque o mostro não merece o amor que recebe, o que torna esse amor importante, mais que comum? Meus punhos se cerram de considerar estas coisas.

- Então as esqueça, pois não são reais.

- O que é real, senão o que sentimos, o que podemos ver? Um sonho é tão menos real que a vida? Se eu posso falar, tocar, provar os sonhos, lembrá-los com carinho ou desgosto, experimentar coisas novas, isto também não é real? E os sonhos existem apenas para mim, como meus pensamentos, que para mim me são igualmente reais. E este é um pesadelo que tenho acordado, e que torna meu único conforto os sonhos, onde finjo ter você só para mim.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Psicose (2/3)

Passo, degrau, perna, passo, degrau, perna, arma preparada. O homem sentia seu coração palpitar rapidamente, tão rapidamente quanto sabia que teria que agir. O perigo era iminente, e tudo dependia de seus reflexos. Respirava controladamente, como havia sido ensinado em seu treinamento. Droga! Tudo parecia ter sido há tanto tempo atrás! Nem sabia se lembraria de tudo, e precisava de tudo que pudesse usar agora. Estava sozinho, e não havia tempo de esperar seu parceiro, nem mesmo reforços. Cada segundo contava agora, e as vidas e muitas pessoas dependiam dele. O assassino não faria mais vítimas, não podia, não se ele podia pará-lo. Prosseguia...


Cada degrau parecia lhe parecer uma colina, e com cada passo que dava seu fôlego encurtava. Apoiou-se contra a parede: dor! Seu peito parecia que iria rasgar, e a dor se alongava até seu braço. Sempre teve problemas cardíacos, mas havia conseguido ocultá-los no exame físico para a polícia. Agora não era a hora de parar. Cerrou seus dentes e continuou, em silêncio, até tombar em meio à escada. Tontura. O mundo se movia como um barco solto às ondas, as paredes pareciam soltas e se moviam. Tentava respirar. Estava quase no segundo andar a casa, mas agora sua respiração e gemidos de dor certamente já haviam revelado sua posição. Podia ver aquela porta naquele corredor escuro, podia ver a luz que vinha de suas frestas, pôde ver a silhueta do homem o observando, mesmo com seus olhos ameaçando se fechar.


Em um esforço como poucas vezes fizera em sua vida, tentava erguer sua arma em direção ao homem, mas as dores lhe aumentavam. Assassino! Assassino! O homem que matara sua esposa, sua garota, a única mulher que jamais havia amado em sua vida, à sua frente. E ele estava impotente: sequer conseguia apertar um gatilho. A cena de quando entrara em sua casa a quase um ano, voltando do trabalho, lhe vinha à mente. A cena de seu quarto, da cama que dividiam, do sangue. A cabeça de sua esposa, jogada sobre seus lençóis. O bilhete, com aquelas palavras horríveis. Começou a chorar.


Lentamente, o homem caminhou lentamente até ele, mas quase não o via, senão uma silhueta. Podia ouvir seus passos, sentia os passos do homem tremendo as tábuas do chão de madeira, sentia a dor de seu coração que parava. Precisava parar aquele homem. Continuava tentando, mas não importava o quanto quisesse, seu corpo já cedia. O homem se agachou próximo a ele, e disse:

- Você não acha que isso está se tornando cansativo?

O detetive não conseguiu dizer palavra alguma, e nem teria desperdiçado palavras com aquele animal. A presença daquele homem ao seu lado, e o fato de não poder matá-lo, como gostaria, ou mesmo prendê-lo, tirá-lo das ruas para sempre, agravavam sua condição. Quase não conseguia mais respirar, engasgava com o ar.


O homem riu da situação do detetive, e tirou a arma de sua mão, lentamente. Disse:


- Boa sorte com a sua morte, detetive. Que ela seja menos agonizante que a de sua esposa. – então aproximou sua boca do ouvido do detetive e disse – Você nunca vai achar o corpo dela, você nunca vai ter essa paz. O que irão achar, porém, são evidências, em sua nova casa, de que você foi o culpado, o assassino. Você vai perder sua honra, o nome do seu pai, e eu vou continuar livre, bem como eu bem quiser.


Aquele monstro se levantou e seguiu escada abaixo, levando a arma do detetive, que sentia um frio tomar seu corpo...


Não! Não, não não! Por Carla, ele não iria morrer naquele lugar, ou daquele jeito. Achou forças, concentrou-se, decidiu-se a viver. E, pouco a pouco sua pulsação voltava, as dores diminuíam, embora ainda persistissem. Passou a mão em seu rosto: suara muito, frio. Ainda estava tonto, mas precisava achar um meio de seguir o assassino de sua esposa até sua nova casa. Havia vendido a antiga, pois jamais conseguiria morar lá novamente. Ligou para seu parceiro e lhe deu as novas direções, gaguejando, ofegante.


Olhou na direção da porta entreaberta do quarto do segundo andar, e pôde ver as manchas de sangue, em meio ao silêncio que imperava na casa. ‘Descansem em paz’, pensou, e não ousou chegar mais próximo dali. Deixou a tarefa para seus companheiros. Não agüentaria entrar em mais um cenário de vítimas e sangue, não agora. Apenas, correu aos tropeços, e apoiado contra a parede, escada abaixo, e para fora daquela casa. Corria, agora, para sua própria.